terça-feira, 9 de dezembro de 2008

UrbeSonora -Lançamento do Projeto



De experimentação sonora à musica de pista.





O UrbeSonora é para seu Ouvido Pensante - Um espaço para experiências sonoras, áudioarte e música experimental. Acolhe e apresenta desde música eletroacústica, paisagens e arquiteturas sonoras, experiências acústicas e espaciais com o som, vertentes mais melódicas, miscigenadas e inclassificáveis até música dançante voltada para as pistas mas sem cair no comum.

sábado, 6 de dezembro de 2008

Chega hoje ao fim a ''Bienal do Vazio''

Camila Molina para O estadão.
Sábado, 06 de Dezembro de 2008 | Versão Impressa


Quatro artistas especialmente convidados pelo Estado comentam o polêmico evento que propôs debate e redução da mostra

Hoje termina a 28ª Bienal de São Paulo, Em Vivo Contato, finalizando sua curta duração, de 42 dias. Para quem quiser ir ao pavilhão ainda hoje, entre as atividades do dia estão, das 10 às 15 h, apresentação do trabalho Arquitetura Paralaxe: Aparecer - Desaparecer, de Alexander Pilis; e às 15 h, conferência no auditório do seminário Bienais, Benais, Bienais..., com a participação de Catherine David (curadora da polêmica Documenta X), Gabriele Horn, Michael Krichman, Thierry Raspall e Ivo Mesquita. Vale também conferir o Video Lounge, curado por Wagner Morales, seção de vídeos que ficou de certa forma "invisível" durante o evento. Já às 20 h começa o encerramento, com "festa" no térreo, apresentação de Axé Vatapá Alegria Feijão, do coletivo Assume Vivid Astro Focus.

Edição apelidada de "Bienal do Vazio", Em Vivo Contato, com curadoria de Ivo Mesquita e Ana Paula Cohen, gerou reações negativas e positivas. O Estado convidou os artistas Paulo Pasta, Nuno Ramos, Shirley Paes Leme e Rosângela Rennó a darem suas opiniões do ponto de vista dos criadores sobre o que resultou dessa polêmica Bienal (leia ao lado). Edição que teve poucos trabalhos expositivos, atividades multidisciplinares, espetáculos e seminários e, ainda, como gesto maior curatorial, a opção por deixar o segundo piso do pavilhão da Bienal totalmente vazio, sua proposta era colocar em discussão a Bienal e o modelo do evento. Mesquita afirmou anteontem, no auditório, que o "debate poderia ter sido mais interessante" e fez a defesa da edição pelas várias críticas que recebeu. Para ele, foi "sucesso de público": acredita que até o fim do dia, a 28ª Bienal possa contabilizar pouco mais de 200 mil visitantes. "A Bienal de Veneza no ano passado, de junho a novembro, teve 370 mil", argumentou.



Paulo Pasta
"Penso ser quase um consenso a constatação da grande frustração que foi essa Bienal. Inútil querer procurar, à maneira de Poliana, o lado bom.

Com toda a consideração devida ao curador, pela sua trajetória e seriedade, o maior resultado dessa edição talvez tenha sido, ao contrário de um debate sobre esse tipo de mostra, ou de uma reflexão sobre a forma - mercadoria que a arte vem assumindo nos últimos tempos, o empobrecimento da experiência. Penso que isso acontece por uma razão óbvia: a ausência - ou a quase ausência - da obra de arte na referida exposição. Segundo os curadores, o objetivo central seria a de uma "Bienal de estratégia" e não de produção artística. Caberia aqui a pergunta: o que poderia gerar o debate que interessa? Não seriam justamente questões vindas da produção artística? Quando a obra está ausente, tudo se empobrece. A obra, a sua presença, é que sustenta o agora, que oferece os vários sentidos ao debate. Quando ela não está presente, sobra apenas a discurseira. Nessa direção, o vazio transforma-se em empobrecimento. E penso que nessa Bienal sobrou discurso... O que vem revelar o outro lado do empobrecimento: o da chatice. Bienal que discute Bienal, arte que discute arte, etc.

Sobre o que pode resultar dessa Bienal, eu acho que pouco. Lembro-me da história do homem que tinha um burro que comia muito. Querendo ter menos despesas com a alimentação do animal, o homem foi diminuindo, aos poucos, a quantidade de comida dada ao bicho. Quando este estava quase acostumado ao mínimo de comida, ele morreu.

Penso que essa história poderia servir de metáfora para essa Bienal do pouco. O maior perigo desta talvez seja acelerar esse sentido de morte. Sim, porque tudo o que começou um dia pode acabar. É responsabilidade da gente dar continuidade às coisas."


Shirley Paes Leme
"Acho que o curador Ivo Mesquita é um profissional extremamente competente e corajoso ao romper com o estabelecido trazendo à tona uma questão que é importantíssima para o mundo contemporâneo: o espaço heterotópico. O curador e sua equipe trabalham com a dessacralização do espaço unindo o fora e o dentro como uma coisa única sem separação. Não é à toa que trazem a performance de Joan Jonas, que nos leva a vários espaços de heterotopia como levantados por Michel Foucault em Des Espaces Autres , texto publicado em 1984 a partir de palestra proferida pelo autor em 1967.

O vazio deixado propositadamente no segundo andar é o espaço deixado para a criação. É como se a Bienal fosse a mente do criador: para se criar é preciso que a mente esteja vazia, que haja espaço para ser ocupado.

Os seminários trazem questões importantíssimas a serem discutidas, pois a memória é o lugar em que o homem encontra as raízes de sua identidade, constrói sua dignidade e guarda seus sentimentos. Para além dos seminários os debates são necessários para o esclarecimento, a divergência, e o aprendizado. Tom Jobim disse que fazer sucesso no Brasil é traição nacional. Eu diria que romper com o tradicional é quase traição nacional. A curadoria, ao romper com estabelecido, questiona a própria mostra e os outros modelos de grandes exposições e bienais que existem. Precisamos sair do âmbito do pessoal, do particular, para o debate público e abertura a novas possibilidades - só assim seremos universais."


Rosângela Rennó
"Acho que essa edição vai ficar inscrita na história das Bienais de São Paulo como um episódio melancólico: uma Bienal com pouca ou quase nenhuma arte. É possível fazer uma Bienal com poucos artistas, mas o que não se deve fazer é uma Bienal com pouca arte. Painéis de discussão, ciclos de debate e palestras são importantes, principalmente, se a intenção é a discussão sobre a crise institucional, mas não são suficientes; não se pode negligenciar a responsabilidade que essa mostra tem com um público muito maior do que aquele que freqüenta os auditórios do pavilhão. O enorme público que comparece às Bienais de São Paulo tem um perfil muito mais elástico do que aquele que freqüenta as Documentas de Kassel, por exemplo. Quando ele entra no pavilhão é pra ver "alguma coisa" e não um espaço vazio justificado por um texto que se resumiria com um "je suis désolé", ainda mais porque esse texto não foi escrito por um artista. Se a intenção da Bienal era mostrar a crise ou o esgotamento da instituição que a abriga, que o fizesse através de trabalhos e não da ausência deles. Dessa maneira o público entende como a falência da própria arte. Por que, então, não ficaram só no território do teórico, do conceito? Talvez tivesse sido mais eficaz: parar pra pensar, identificar os problemas e achar soluções pra fazer melhor na próxima."

Nuno Ramos



"Pra mim foi uma espécie de morte anunciada - parecia que ia dar errado, e, adivinhe, deu mesmo!

O Nelson Rodrigues tem uma peça, acho que é Os Sete Gatinhos, em que um pai de família culpa um homem que chora por um olho só pela decadência de sua família. Na cena final ele chora... por um olho só, e descobre ser ele mesmo o algoz familiar. É essa bandeira que diversas instituições ligadas à arte vêm dando há um tempo já - elas estão chorando por um olho só, atacando, controlando, vigiando, disciplinando, reduzindo, emburrecendo (consciente ou inconscientemente) aquilo que supostamente deveriam preservar e engrandecer: a arte.

Essa Bienal, pra mim, com todo respeito aos artistas participantes (que tiveram um papel de fato coadjuvante), foi o exemplo extremo disso, a ponto de (nunca é demais repetir esse fato espantoso) ter praticamente substituído os artistas pela Curadoria."

------------------------------------------------------------------------------------
*Separei algumas parte que concordo, e outra que discordo.

"não se pode negligenciar a responsabilidade que essa mostra tem com um público muito maior do que aquele que freqüenta os auditórios do pavilhão. O enorme público que comparece às Bienais de São Paulo tem um perfil muito mais elástico do que aquele que freqüenta as Documentas de Kassel, por exemplo. Quando ele entra no pavilhão é pra ver "alguma coisa" e não um espaço vazio justificado por um texto que se resumiria com um "je suis désolé", ainda mais porque esse texto não foi escrito por um artista"
"A obra, a sua presença, é que sustenta o agora, que oferece os vários sentidos ao debate. Quando ela não está presente, sobra apenas a discurseira. Nessa direção, o vazio transforma-se em empobrecimento. E penso que nessa Bienal sobrou discurso... O que vem revelar o outro lado do empobrecimento: o da chatice. Bienal que discute Bienal, arte que discute arte, etc."

O ùnico comentário que louva a iniciativa, é justamente um desses que considero bem "arte contemporânea".Embebido de selos e referências e estrangeiras, exibição de conhecimento das estrelas da arte européia (ou norte americana) e chavões básicos da pós modernidade (rs!): Heterotópia e Dessacralização.

"Não é à toa que trazem a performance de Joan Jonas, que nos leva a vários espaços de heterotopia como levantados por Michel Foucault em Des Espaces Autres , texto publicado em 1984 a partir de palestra proferida pelo autor em 1967.
Precisamos sair do âmbito do pessoal, do particular, para o debate público e abertura a novas possibilidades - só assim seremos universais."
*Até concordo com esta ultima frase, mas não neste argumento que a Shirley defende.Me parece que a universalidade que ela menciona é muito mais uma universalidade de tornar-se internacional, global do que reconhecer a universalidade de nossas necessidades e potencialidades dentro de nossos próprios contextos.Acho que se o "pessoal" não fosse universal, a arte nem de longe poderia atualmente ser contemporânea.
Aslan Cabral

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Artistas cobram iniciativa da Bienal para liberar pichadora presa há 40 dias

04/12/2008 - 07h01
Rodrigo Bertolotto
Do UOL Notícias
Em São Paulo (SP)

Caroline Piveta da Mota, 23, entrou no prédio da Bienal de São Paulo, pintou com spray uma parede e está presa há 40 dias. Levada ao 36º Distrito Policial , na rua Tutóia, três dias depois foi aprisionada na Penitenciária Feminina Sant´Ana, no Carandiru.


PICHAÇÃO E DETENÇÃO
As últimas palavras a caminho da viatura foram: "Eu sou pichadora" e "Viva a pichação". Isso aconteceu no primeiro dia do evento, que termina no próximo sábado marcado por esse caso policial.

A ação no segundo andar do prédio (a "planta do vazio") foi classificada como "terrorismo poético" e "intervenção artística" por seus defensores e de "vandalismo" e "atitude autoritária" pela declaração oficial de uma Bienal que tinha como lema "Em Contato Vivo" e prometia refletir sobre a arte contemporânea e o circuito artístico.

"Isso é uma hipocrisia absurda. Quem devia ser preso são os organizadores. O andar vazio era um convite à manifestação, à contravenção. O mínimo que a Bienal pode fazer é colocar seu advogado para liberar a moça", afirmou o artista José Roberto Aguilar.

Fora a declaração em 27 de outubro, a curadoria da mostra não quis se manifestar sobre o assunto. Ivo Mesquita e Ana Paula Cohen foram procurados pela reportagem do UOL desde a semana passada, sempre alegando por meio da assessoria de imprensa que não tinham espaço em suas agendas.

Quem falou foi Rafael Vieira Camargo Martins, 26, o amigo de Caroline que foi preso ao levar os documentos da garota no DP. Ele foi reconhecido pelos presentes na delegacia e acabou detido por oito dias. "Fui à Bienal porque vi as mensagens pela Internet falando da invasão. Mas não pichei nada. Fui só ver. Eles não conseguiram provar e me liberaram", contou em conversa telefônica.

Taxista na região do Ipiranga, ele afirmou que perdeu dias de trabalho e a auto-estima com a prisão. "Com que cara eu fico diante de meus passageiros, sabendo que eu estive na cadeia? Os policiais me zoaram, mas os companheiros de cela me ajudaram", conta Rafael, que participará nos próximos dias de uma manifestação pedindo a libertação da amiga.

Ele deve visitar a amiga na penitenciária no próximo domingo. Ambos estão sendo processados por destruição do patrimônio público e podem pegar uma pena de três anos de reclusão. Aponta-se envolvimento em outras duas ações anteriores, em junho no Centro Universitário de Belas Artes (Vila Mariana) e na galeria Choque Cultural (Vila Madalena). As três iniciativas teriam como mentor Rafael Guedes Augustaitiz, conhecido no meio como Pixobomb, e foram registradas em vídeos ou fotos.

A primeira foi proposta como trabalho de conclusão de curso (TCC). Pixobomb foi reprovado, expulso da faculdade, fichado na delegacia com mais cinco amigos e processado por danos. A segunda ação queria atacar "uma bosta de galeria" que "abriga artistas do underground, então, é tudo nosso", nas palavras da carta de convocação. Esse protesto rachou em discussões e ameaças os pichadores e os grafiteiros que estão levando seus trabalhos para circuito.

A turma de Pixobomb se intitula "PiXação: Arte Ataque Protesto" é formada por dezenas de jovens entre 15 e 30 anos da Grande São Paulo que se conheceram nas ruas. A garota presa é uma exceção: a gaúcha Caroline conheceu o grupo pela Internet.

Outras intervenções clandestinas na mais tradicional exposição de São Paulo não tiveram desfecho tão drástico. O grupo Arac, por exemplo, colou adesivos nas pilastras e paredes do prédio e publicaram em blog um Manual para a Invasão da Bienal. Já estudantes de publicidade promoveram um flash-mob (expressão inglesa que significa multidão instantânea) com suas camisetas formando a pergunta: "Sem idéia?", filmando tudo para passar o vídeo na Web.


A ARTE COMO CRIME

A invasão da pichação inspirou o artista Eli Sudbrack a fazer uma série de peças de neon usando o grafismo exposto na galeria Casa Triângulo, que está instruída a não chamar a polícia caso os pichadores passarem para lá.

"Achei a ação dos pichadores fantástica, de uma coragem inacreditável. Não sei como os curadores não abraçaram o conceito. Deve haver alguma razão política. Só porque a garota não é do mesmo estrato social da elite artística", questiona Sudbrack, que pede uma ação dos artistas para liberar Caroline. "Se a Bienal não tirar ela de lá, temos que fazer algo. Eu mesmo já colei stickers em exposições importantes nos EUA. É um absurdo o que está acontecendo. Ela não é uma criminosa", critica o artista.

Na blogosfera também o apoio foi maior que a recriminação. Vitor Ângelo, que mantém o blog Dus Infernus, relatou o caso do ponto de vista de alguém que estava naquele domingo 26 de outubro às 19h30. "Me deparo com a curadora Ana Cohen descabelada, chamando-gritando pelos seguranças, polícia. Vejo uma manada de jovens em uma coreografia que lembrava os animais livres da savana correndo e gritando por liberdade de expressão. Não resisti, aplaudi forte como muitas outras pessoas", escreveu Ângelo, para logo teorizar.

"A Bienal ao apagar os pixos assim como a grande maioria dos senhores envolvidos com a tal arte contemporânea estão situados e sitiados no terreno da cultura, já os pichadores, eles estão no terreno da arte", completou, citando frase do cineasta francês Jean-Luc Godard ("Cultura é regra, arte é exceção").

A organização afirmou antes da abertura da Bienal que sabia da ação dos pichadores, mas só reforçou o policiamento, com revista de bolsas, após o incidente no primeiro dia da exposição. Na hora da confusão, os seguranças tentaram conter os protestantes até a chegada da polícia. A maioria escapou após quebrar um dos vidros do prédio.

link para assistir ao vídeo da pixação.
http://diversao.uol.com.br/ultnot/multi/2008/10/28/04023560E4A12326.jhtm?metropolis--pichacao-na-bienal-de-sao-paulo-04023560E4A12326

Convocação para bienal! IMPORTANTE


Queridos Artistas e demais Pessoas Sensíveis

Peço atenção a todos voces para essa convocação que, em face aos fatos relacionados com o imenso VAZIO provocado por essa (XXVIII) Bienal que se encerra sábado, se torna extremamente oportuna e necessária.

Conto com a adesão de voces, pois não podemos permitir que um evento de tal importância tenha se "esvaziado" dessa maneira.
Um certame que já abrigou e nos trouxe entre outros, Rothko, Jasper Johns, Hooper e Picasso, não pode nos privar do que há de melhor da produção artística no planeta, como aliás, mandam os seus estatutos.

CHEGA de empulhação e engano.
Queremos CONTEÚDO.

Além do mais, que estória é essa de mandar PRENDER alguém que só quis fazer o tal "CONTATO VIVO" que o lema da Bienal tanto enunciava?
Censura? Voltamos aos tempos da ditadura e da repressão ?


ANTONIO PETICOV



C O N V O C A Ç Ã O



Gente, sábado é o último dia da Bienal do Vazio. Precisamos fazer algo, JUNTOS, TODOS!



Queremos os pescoços de Ivo Mesquita e Ana Paula Cohen!

Viva a liberdade de expressão! Abaixo ao vazio intectual!

O Brasil possui riquezas diversas para mostrar ao mundo! Vamos mostrar do nosso jeito!

O que vimos, este ano, foi um "vazio" intelectual protagonizado por Ivo Mesquita e Ana Paula Cohen.

Estes quando procurados alegaram estar com suas agendas cheias! Cheias de vazio?


Artistas, vamos nos unir!

Vamos levar nossas obras artísticas para rua, vamos expô-las na frente do prédio da Bienal, neste sábado as 9 h da manhã! Cada um com a sua linguagem!

Vamos fazer uma MEGA EXPOSIÇÃO para mostrar ao mundo que o Brasil, atualmente, conta com feras nos mais diversos campos das artes.

Já estamos contatando artistas, a imprensa, amigos, todos interessados em mudar este capítulo vergonhoso da estória da nossa querida Bienal.

Não fiquemos atrás de nossas mesas apenas clicando nossos disabores!

Vamos, sábado, para frente do prédio da Bienal defender a cara da nossa arte para o mundo!

Amamos muito nossa terra. Nossa terra colorida repleta de vida! Temos muito o que mostrar.

Poderemos mostrar! Iremos mostrar!

Cintia

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Palestra: Arte na Era da Obesidade, RJ




clique na imagem para ler os detalhes.

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Arte Atual-Catálogo de arte deve ser visto como gibizinho de mangá




Há alguns sábados estava eu conversando com amigos,começamos a ver um catálogo da exposição realizada no CCBB.(centro cultural banco do brasil[aquele mesmo que teria um em RECIFE,e nunca deu em nada])
O catálogo era moderno,feito por quem sabe copiar, `à risca, o padrão de qualidade e programação visual dos catálogos que circulam em grandes instituições da europa e america do norte.Sabe quando uma coisa repetida e repetitiva te dá aquela "cansada"??


Não me refiro aos trabalhos dos artistas, e sim sobre os formatos de catálogos e livros de arte contemporânea existentes e todas as outras coisas que pecam por fazer a linha "globalizado" e internacinal.
Sabe aqueles catálogos que tem uma foto do artista, e fotos de seu trabalho? deveria constar embaixo da foto: artista plástico e modelo!
As fotos sempre claras, maravilhosas ou enigmática e bem caprichadas.
Digna de verdadeiras estrelas!
:D
Daí começei a analisar bem o processo de visualização, e subversão de significados atribuídos à arte, pela maioria das instituições e mercados, e também referente à "tal" arte contemporânea.
1º- Vê- se a foto do artista, arrasando.
2º- O nome, e sobrenome, da estrela.
3º-Lê-se um texto cheio de jargões e referencias, que só sendo do meio de arte, e mesmo assim estudado muito(uahua),para que se entenda algo ou possa ser feita alguma relação entre a pessoa que lê to texto, e o trabalho sobre o qual o texto foi escrito.
e por ùltimo:
Duas páginas com as fotos das obras.

Por mim ok!Estudei e estudo a tal arte contemporânea, estratégias de inserção em mercados(rs!) história da arte européia, americana... então entendo as referências corriqueiras nestes padrões internacionais (marketeirinhos de doer)
But,
Tive uma idéia que já está me dando um refresh dessa canseira da arte contemporânea e suas ferramentas de sedução às avessas.
A partir daquele dia que conversava com os amigos e olhava os catálogos de arte, leio o texto inicial dos catálogos, e pulo láááá para a ùltima página.

Assim sempre vejo primeiro as duas páginas com as fotos dos trabalhos, penso neles, analiso, depois leio o textinho(na maioria das vezes arbitrário). E por ùltimo vejo a carinha de "nova geração" dos modelos contidos naquele book.
Opa!foi mal
eu queria dizer que:
Por ùltimo, vejo a carinha de "nova geração" do artistas de alguma exposição "tal" arte contemporânea.

Pois é, agora vejo catálogos de arte como quem lê quadrinhos de mangá.
De trás prá frente!



Aslan Cabral

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

ROTATÓRIA DE GALA (Belo Horizonte)



O coletivo AZucrina! orgulhosamente convida a população
belorizontina para a comemoração de suas 2 primaveras completadas,
que se dará às 18hrs do dia 13 de dezembro de 2008
embaixo do viaduto Sta. Tereza.

Gente fina, elegante e sincera
Música ao vivo
Traje: esporte fino





www.azucrina.org

terça-feira, 25 de novembro de 2008

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Expos da semana (buenos aires)

Festival Internacional de Arte de Acción

Noviembre 2008
Buenos Aires – Argentina

última semana


http://zonadeartenaccion.blogspot.com/


AGENDA


Domingo 23 – 20 hs.
ESPACIO RECONQUISTA
Reconquista 890 3º G - Ciudad Autónoma de Buenos Aires

Stephen Lawson - Aaron Pollard - 2 Boys TV


Lunes 24 - 18,00 hs.
IUNA - Sede PINZON
(Instituto Universitario Nacional del Arte)
Patricios 740 - La Boca – Ciudad Autónoma de Buenos Aires



Aníbal Vallejos/ Aslan Cabral / Calixto Saucedo
Isabel Mónaco/ Lisette Olivares / Javier Del Olmo


Martes 25 - 18,00 hs.
IUNA - Sede LAS HERAS
(Instituto Universitario Nacional del Arte)
Av. Las Heras 1749 - Ciudad Autónoma de Buenos Aires

CALIXTO SAUCEDO - PRESENTACION LIBRO OBJETO
7 veces 7 arte y conurbano argentina siglo XXI

MONICA GARCIA, ALEJANDRA BOCQUEL y NORBERTO JOSE MARTINEZ
Charla abierta, sus experiencias como artistas gestores de los encuentros de Arte de Acción del año 2000 y 2002 en Buenos Aires - Argentina.




Jueves 27 - 18,00 hs.
CASA DE LA CULTURA - FLORENCIO VARELA
Mitre 149 - Florencio Varela

Marcelo Gandhi / Malgosia Butterwick / Morgan Ohara
Michiko - Maria De Brea / Luis Eduardo Martínez / Andrea Cárdenas



Viernes 28 – 19hs.
ESCUELA DE ARTE DE FLORENCIO VARELA
San Juan 122 - Florencio Varela

Claudia Ruíz Herrera / Vanesa Genlote
Grupo Repecho / Jane Jin Kaisen /Cheto Castellano /Marcelo Gandhi


Sábado 29 de noviembre - 18,00 hs.
Cierre del Festival
CHELA
(Centro Hipermediático Experimental Latinoamericano)
Iguazú 451, Parque Patricios – Ciudad Autónoma de Bs. As.

Ángel Pastor / Marcus Vinicius / Javier Sobrino / Leticia Orieta
Mariana Motuzas / Mónica García / Soledad Sánchez Goldar
Claudio Braier / David Khang / Carolina Montano / Santiago Javier Gasquet

+

happening colectivo - Marcelo Gandhi

+

musikita

Los Dulces / Los Pakidermos / Los Roñosos





ORGANIZACIÓN Y PRODUCCIÓN
Gabriela Alonso – Nelda Ramos / Zonadearte

EQUIPO DE DOCUMENTACION
Fotografía
María De Brea / Marcus Vinicius / Nelly Paris
Emilio Paravisi / Flavia Paravisi / Milton Alvarado

Video y edición
Julián Rivero / Julia Sánchez

Traducción
Roberto Ruíz / Flavia Paravisi

Colaboradores
AAVIV / Zulema Eleo / Mara Miño / Michiko / Joaquín Amat
Federico Vázquez Villarino / Raúl Lacabanne / Gabriel Montero
Dirección de Cultura y Educación - Municipalidad F.Varela

domingo, 23 de novembro de 2008

Expos da semana (Recife)






Esta semana acontecerá a abertura de três exposições no Recife.Na galeria Dumaresq, que atualmente tem representado um representativo recorte da jovem produção pernambucana, apresenta exposição " grades de caminhões " do veterano Renato Vale na quarta-feira, dia 26 às 19 hrs
mesmo horário e data que o Museu do estado abre a primeira exposição dos convidados do salão pernambucano.Delano e Samico são os convidados desta leva.
E na terça-feira, um dia antes, é a vez de Cristiano Lenhardt, que abre a exposição "Diamante" no Centro Cultural Banco Real.Imperdível.

terça-feira, 4 de novembro de 2008

Esta Bienal... reflete a arte contemporânea?













Esta Bienal... reflete a arte contemporânea?

Talvez a 28.ª edição seja espelho da debilidade da instituição e não da expressividade do circuito



Crítica Aracy Amaral

A gente entra; e de imediato se indaga, constrangida: a "isto" se viu reduzida a Bienal de São Paulo? Mas é bom que se saiba: a indigência presente na Bienal de várias maneiras e que vimos na noite de abertura não reflete a arte contemporânea. Ela é antes espelho da debilidade de uma instituição. Não há necessidade de fazer simpósios ou seminários sobre o assunto. Também entendemos que a Bienal não é festival de artes em geral. Em São Paulo, a oferta de espetáculos de dança, música e teatro é imensa o ano todo e teria sido desnecessário o que se despendeu ocupando o espaço com essas atividades.

Quando se viaja ao exterior e se vêem exposições marcantes de artistas em grandes museus como a Tate Modern, em Londres, ou em Viena, no Ludwig Museum, ou em Nova York no MoMA ou Whitney, só para citar alguns, damo-nos conta do que está se passando em arte contemporânea. Como ao visitar uma Documenta de Kassel, por exemplo.

Também as grandes feiras internacionais de arte nos passam uma imagem viva da efervescência do meio artístico, seja com as obras expostas, ou com seminários que realizam.

Se entre nós o problema foi falta de verba que caberia à presidência da Bienal providenciar, essa presidência está no lugar equivocado, pois essa é a sua competência. Se a escolha do curador foi tardia, a responsabilidade é da instituição e da curadoria que aceitou, assim como a proposta e suas limitações, pela simples necessidade de vê-la aprovada por falta de tempo para executar ou conceber outro projeto.

Até detalhes paralelos à "proposta" de Ivo Mesquita podem ser criticáveis. Como a apresentação de "documentos da Bienal", pois afinal, o Arquivo Wanda Svevo sempre esteve aberto a pesquisadores e não precisava ter sido deslocado para o terceiro andar nem facilitar o manuseio de catálogos raros por parte de qualquer visitante sob risco de perda ou vandalismo.

Tentemos falar claro. Esta Bienal parece antes preconceituosa - em sua preocupação em não mostrar artistas de outras tendências, mas apenas aqueles rigorosamente conceituais . Afinal, para citar apenas um jovem artista brasileiro e um do jet set, as imagens poderosas de um Henrique Oliveira acaso foram cogitadas? Um Damien Hirst, artista há 20 anos "estrela" no meio internacional, não seria interessante ter sido apresentado? A arte chinesa de hoje (e mesmo a coreana !), espanto em grandiloqüência, mas sem dúvida um fenômeno das artes visuais de nossos dias, e atual "darling" de museus e centros culturais de todo o mundo ocidental, por que não está presente? Na linha de "happenings", por que não pensar nos 40 anos depois do Grupo "actionista" de Viena, do qual fizeram parte Schwartzkogler e Gunther Brus, performáticos e violentos em suas manifestações e expressões ao vivo e em vídeo? O Ludwig Museum de Viena comemorou com grande exposição em junho-julho último essa documentação forte, embora os jovens de hoje raramente saibam que existiu e creio que pouco se comovessem ao ver esses documentos. A arte também envelhece. Mas, enfim, há tantas vertentes das artes visuais no mundo que a pálida 28ª Bienal pode passar ao visitante incauto a falsa impressão de que nada mais ocorre na área. Ou, que não há nada de outros tempos que bem valeria um gesto generoso por parte do "Conselhão" ou Comissão (?) da Bienal em aprovar, recomendar e levantar fundos para sua apresentação. Afinal, repetimos, fortunas não nos faltam em particular neste Estado. E temos em mente que presidir uma Bienal de São Paulo, ou candidatar-se a esse cargo, pressupõe minimamente séria responsabilidade.

Mas, ou se apresenta evento digno dessa tradição - Bienal de São Paulo - ou se reformula a existência ou freqüência do evento, como sugerimos há mais de 30 anos em simpósio latino-americano ocorrido aqui na Bienal mesmo para que ela se transforme em trienal ou quadrienal. Embora nossos profissionais, enquanto curadoria, sejam dignos de respeito, nada mal se em bienais alternadas tivéssemos curadores convidados de outros países, do mais elevado nível, para formar e diversificar as equipes que se formam no Parque do Ibirapuera.

Se não se pertence ao círculo fechado do "Conselhão", ou dos que decidem o que entra e o que não entra -, pois estamos distantes da organização por parte dos países convidados para que tragam seus artistas indicados pela curadoria da Bienal - nunca será veiculado quais os que foram convidados e não compareceram, por recusa, ou porque não houve orçamento possível.

No terceiro andar, sem dúvida o que mais chama a atenção são os móveis de marcenaria de mesas, cadeiras e bancos, que seriam muito bem-vindos em centros culturais sem recursos ou mesmo em creches de nossos bairros mais carentes, segundo observou Ana Maria Belluzzo.

Como descobrir uma proposta interessante da fértil Rivane Neuenschwander em meio às mesmices expostas, como as reproduções nas paredes ou papéis em vitrines que dificilmente despertam nossa atenção? Referimo-nos à monotonia da arte conceitual, a nos recordar das maçantes exposições de galerias dos anos 70 em Nova York ("como são chatas!", nos dizia Hélio Oiticica, só para citar um nome respeitado em nosso meio). Naquele tempo, só de penetrar numa dessas galerias, dar uma olhada às pranchas penduradas com palavrórios mil e cálculos matemáticos já era suficiente para nos expelir do recinto.

Não deixamos de notar o assédio curioso de uma obra por parte do público que ocasionou a única longa fila que vimos no dia da abertura - a possibilidade de penetrar no tobogã do belga Carsten Höller - para poder usufruir da adrenalina na queda vertiginosa. Na verdade, esse trabalho, de verdadeira interação com os visitantes, talvez seja o único da Bienal a alcançar a escala de bienais passadas em termos de expectativa: "Quero ir à Bienal para ver tal trabalho."

Allan McCollum, uma raridade igualmente, parece ter trazido, com seu envio, aquilo que eu consideraria um "trabalho para um espaço de Bienal".

Por isso me pergunto, espantada diante do que está exposto, como preparar visitas guiadas de escolares? Como explicar "artes visuais contemporâneas" a um público infantil ou adolescente nesta Bienal? Ou, como justificar a existência das Bienais?

Convenhamos: como ouvir tranqüilamente que é "genial" o piso geométrico de Dora Longo Bahia, que deve ter sido de difícil implantação, por certo, para seus auxiliares, com desenhos a nos lembrar azulejos hidráulicos magnificados, ou de inspiração islâmica?

Na verdade, ao ver a diminuta peça de Iran do Espírito Santo, parece que esta Bienal, salvo exceções, pelo teor das propostas, parece feita de presenças antes para a elite freqüentadora de galerias do que baseada numa concepção considerando o grande publico. O que significa isso?

Significa que num evento "bienal", "trienal", em particular num país como o Brasil, de extrema desigualdade social e educacional, os espaços, a cidade, as obras e os visitantes devem ser pensados em termos interativos, como alvo de motivação e não apenas de exibição.

Assim foi o propósito, a meu ver, que ocasionou a vinda da Guernica (em 1953-54), da sala Mondrian, da sala Picasso, da sala Van Gogh, do pop norte-americano já em meados dos anos 60, e de tantas outras salas especiais, como a dos artistas modernos e modernistas da Bienal da Antropofagia. Ou mesmo da Bienal da Grande Tela, sob a curadoria de Sheila Leirner, em 1985, ao trazer-nos a nova pintura dos anos 80. Claro que o Brasil mudou, e nossos museus e centros culturais idem. Assim, temos tido grandes exposições nos últimos 10-12 anos. Mas quem sabe os tempos agora ficarão mais magros e teremos que batalhar por novas oportunidades?

Mas, afinal, o que eu vi na abertura da Bienal? Muita "arte de processo", tendência típica dos anos 70, ou simulacros, como uma pseudoloja de rua reproduzida no interior da Bienal (Chaveiro, de Paul Ramirez Jonas), pseudográfica com impressão de jornais (Erick Beltrán), folhetos conceituais humorosos (ou não), e por vezes criativos, como sempre são distribuídos nas Bienais ao longo do tempo; entre vídeos modestamente dispostos, ao largo do circuito "nobre" do espaço, como alternativa para eventual outra visita do apreciador.

Melhor não mencionarmos a museografia, a organização do espaço desta Bienal. Nem há etiquetas dos autores dos trabalhos em suas proximidades. Talvez entendam os curadores que os folhetos com mapas impressos sejam suficientes... Não o são. Passa uma idéia de descaso para com o visitante, de falta de tempo para os "finalmente" do evento.

O que é o "espaço vazio" da Bienal? Prédios e habitações vazias em nossos tempos são um convite certo à "invasão". Se não ocorre "ocupação", vamos ocupá-los. Assim pensaram visitantes de um museu, cujo diretor, na década de 80, deixou o espaço vago para motivar a população, numa cidade no sul da França, a ocupá-lo com objetos e obras que traziam de casa. Mas acontece que hoje vivemos em tempos bem mais agressivos.

Colocar como alvo de admiração o espaço concebido por Niemeyer, e que usufruímos há mais de 50 anos, poderia ser projeto para uma Bienal de Arquitetura de São Paulo. Mas esta é a 28ª Bienal. Assim, não tem sentido, e mesmo a definição desse espaço pela curadoria parece-nos equivocada se não for de humor (?) dúbio (*). Assinala falta de idéia, de concepção, de tempo, de orçamento. Ou tudo junto. Se o desejado é a polêmica sobre a provocação, então o objetivo foi alcançado. Mas o "void", com certeza, é uma omissão. Nada tem de rebeldia. E se o curador da Bienal, Ivo Mesquita, aceitou os termos da presidência, as regras do jogo, quando aceitou, não se pode dizer apenas que "salvou" a Bienal por ter ela sido realizada em menos de um ano. Pode-se ser mais incisivo: dizer que ele "quebrou o galho" para a atual presidência. E certamente poderá até ser elaborado um catalogo bilíngüe pleno de textos sobre a filosofia da arte de nosso tempo.

Na verdade, há algo de cinismo murmurado, reconhecido e vivenciado no meio artístico contemporâneo. O conceitual é bem imaterial, mas aqueles que sobrevivem vendem, ou viajam a convite para expor suas criações. A própria crítica, as curadorias, a mídia, o sistema de galerias e museus, todos enfim contribuímos amplamente para esse fim, apesar do que se publica em vários países sobre esse fenômeno. Isso se deve ao fato de se escrever, em geral em literatura pouco acessível ou pedante, sobre obras sem nenhum ou parco valor, para um público reduzido que acredita erroneamente que quanto mais hermético mais elevado.

Mas é certo que a criação contemporânea é um instante de trânsito, entre o passado e o futuro, pois como prever qual será exatamente o tipo de expressão visual dentro em pouco com os avanços da nanotecnologia, da internet, do papel eletrônico ou da fotografia digital, que influenciarão várias formas de manifestação?



*No folheto distribuído ao público é definido esse espaço e sua concepção: "2.º andar: Planta Livre - Ao contrário das bienais anteriores, que transformaram todo o interior do pavilhão modernista em salas de exposição, desta vez o segundo andar está completamente aberto, revelando sua estrutura e oferecendo ao visitante uma experiência física da arquitetura do edifício. O termo ?planta livre? refere-se ao conceito criado por Le Corbusier, em 1926, para definir um dos cinco princípios da nova arquitetura."

Aracy Amaral é crítica e historiadora de arte

Este artigo foi publicado no estadão na sexta-Feira, 31 de Outubro de 2008
http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20081031/not_imp269905,0.php


28.ª Bienal de São Paulo - Em Vivo Contato. Fundação Bienal. Av. Pedro Álvares Cabral, s/n.º, Parque do Ibirapuera, portão 3, 5576-7600. 3.ª a dom., 10 h/ 22 h. Grátis. Até 6/12. site: www.28bienalsaopaulo.org.br

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

29ª BIENAL DE SÃO PAULO-EM VIVO CONTATO


No ultimo domingo um grupo resolveu fazer uma intervenção no 1º andar da Bienal e essa ação acabou virando cas de polícia.Neste tópico do Arte Atual reuní algumas imagens e opniões(e também o link de onde eu encontrei essas info)para que possamos acompanhar e contribuir para o pensamento em relação a arte e seus realizadores.
Aqui vai a convocatória, seguida de tradução, e logo na sequencia comentários sobre o momento atual.



ATACK BIENAL 2008

Nada do que suposto o natural, a simbolica e singular Pixação Paulistana, espancar na tinta Galerias e Museus de Arte, transcendendo "ALÉM DO BEM E DO MAL", prestando seu papel aos "Confortaveis", contribuindo com a Arte e a Humanidade.

PROGRESSO

Espancaremos na Tinta a Bienal de Arte esse ano conhecida como Bienal do Vazio.

DIA - 26/12/2008 - Domingo LOCAL: Pq do Ibirapuera

PONTO DE ENCONTRO: Ponto de onibus em frente o "Detram"

HORARIO: 18:00 horas

Submeteremos e ao mesmo tempo protestaremos, resgatem frases pelo povo.
HUMANISMO.

"Contamos com a presença de todos os Pixadores"
"TODOS PELA PIXAÇÃO"


VEJA EM TAMANHO MAIOR / SEE LARGE SIZE: www.flickr.com/photos/choquephotos/show/with/2980665492/

Nesse site aqui está rolando uma discurssão bem interessante:
http://www.culturaemercado.com.br/post/intervencao-na-bienal-e-caso-de-policia/#comment-12656



Acabo de colocar um comment lá que está esperando aprovação.Anyway, aqui vai o que escrevi após ler a discurssão:


Puxa!
Eu estava me organizando para ir a São Paulo, principalmente para realizar uma ação, performance, intervenção nesse andar vazio da Bienal.Mas aí meus flatmates que estiveram em sampa para a mostra de cinema visitaram o pavilhão lá no domingo(neste momento histórico) e me falaram de suas impressões em relação a bienal.E mesmo achando que arte é algo complexo como política e religião(haha[) concordei com suas impressões mesmo sem ter estado lá.Desisti, meu traje de xilindró está na tinturaria huahua.

A idéia do vazio funciona muio bem no texto/proposta mas na prática só parece manter o que mais me intriga na tal arte contemporânea:
A arbitrariedade.
Abrir um vazio e querer que esse vazio fique vazio vazio e vazio é li-te-ral-men-te querer esvaziar o que existe, ou poderia existir, na relação entre arte e público
Como um dos colegas comentou acima:
Mais do que uma mera questão de pixação, estamos diante da agonia pública de uma das mais importantes instituições culturais do país.
Até entendo a vontade dos curadores, pessoas vividas viajadas e “rodadas” em arte, de querer “renovar” e questionar a contribuição das bienais mundo afora buuuuut esse “F5″(o botão que atualiza as janelas de navegação na internet) torna-se extremamente arbitrário quando essa tal arte contemporânea é uma arte para poucos.A impressão que se tem é que tanto e Recife, como no Rio de Janeiro, São Paulo…Paris, Nova Iorque a arte contemporanea é uma especie de clubinho nada misto, e nem mesmo amistoso!
Sempre mostrando o que quer, e fazendo qualquer coisa que quiser virar arte o artista contemporâneo(nesse inclui-se os curadores) se irrita e equivoca-se ao perceber a invasão, intromissão por parte da participação do público.
Todos já sabemos que usa-se muito a palavra “diálogo”( xavão nas justificativas de trabalhos de arte contempoklshcwofhuoihfurew!) em situaçõs e obras que não dialogam em nada!Agora é a vez do vazio.Acho que vai ser normal ouvir isso nos proximos encontros de “arte” contemporanea:
“eu resolvi criar um vazio entre a arte e o publico, mas um vazio meu.Só meu!”
“O vazio entre o publico e arte mostra a necessidade de matermos a distância entre o que nós artistas e curadores fazemos e o que a “geral” pode viiiir a pensaaaaar sobre o que vem a seeer a arte contemporânea”

Digo isso pq tem um moooonte de artistas que seguem a risca o que as bienais e grandes artistas curadores e exposições sugerem, ou ditam.Então preparem-se para mais uma geração “vazia” que surge paralemente a essa lista de pessoas que estão pensando e gerando pensamento público e democrático.
Vou até repetir a declaração de autoritarismo assinada pela curadoria:

“pedimos a gentileza de que os visitantes não venham com bolsas grandes (mochilas são guardadas obrigatoriamente), pois elas terão de ficar no guarda volumes. Todos os visitantes deverão passar por detectores de metal e, quando solicitados, poderão ser inquiridos sobre possíveis pertences metálicos que estejam portando. A 28ª Bienal de São Paulo estará aberta normalmente ao público, amanhã, terça-feira, a partir das 10h, sem qualquer alteração em sua programação.”

Quem está certinho certinho é o tom lisboa no primeiro comment dessa lista:
Eu acho que o VAZIO não tem que ser preenchido.
Por isso lancei a VAZIO Off Bienal.

Me too chuchu…tô fora!
(Ah!vou colocar o link desta discurssão no meu blog)
;)



Por favor visitem os links e participem.

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Crítica de exposição-Black Is Beautiful





DE NIEUWE KERK
Dam Square
AMSTERDAM

até 26 OUT 2008



Black is Beautiful é daqueles títulos que devido ao seu significado e força, merece de imediato a nossa atenção. Todavia, a exposição que o ostenta fica muito aquém da dimensão da homenagem que propõe fazer. É preciso relembrar que não estamos a falar da imensa riqueza cultural de Marrocos (para abrir um pouco as mentes de tantos movimentos anti-islâmicos surgidos nos Países Baixos) ou da descoberta dos tesouros de um dos países mais inóspitos do mundo, o Afeganistão. Ambos os temas estiveram também patentes em anteriores exposições na igreja De Nieuwe Kerk, na praça do Dam, em Amesterdão.

No entanto, tais temas prestavam-se a lugares íntimos e sagrados como este, que de sagrado já tem muito pouco, mas a celebração de uma cor de pele teria no mínimo que ser capaz de arrombar todo o quarteirão. Por ser fracturante, ou absolutamente fascinante, ou as duas coisas ao mesmo tempo. Pois esta exposição a decorrer até 26 de Outubro faz-nos sentir, ao contrário, mais um espírito de penumbra e fatalidade do que uma mudança profunda e rejuvenescedora. A iluminação escolhida favorece um ambiente fúnebre no deambulatório da igreja e como se não bastasse, ouve-se amiúde como música de fundo a banda sonora do filme Bleu de Krzysztof Kieslowski. Uma música sublime mas, inadequada para este contexto. Mas donde viria tal peso? Na capela-mor o narrador de um documentário dizia expressamente que se evitaram gravuras onde os negros eram postos a ridículo com o intuito de não chocar. Ora, isto dá que pensar! Se o holocausto tem que ser assumido por quem o vinculou com todas as suas amargas vertentes, muito mais terá a população branca que mostrar, encarar e superar de uma forma criativa esse passado que a todos nos toca. Da mesma forma, qualquer indivíduo negro não se poderá afastar de um passado que lhe pertence, que apesar de tudo sempre o soube transformar, nunca desistindo dos seus sonhos. Esta atitude enraizada numa mentalidade calvinista, ainda bem presente na sociedade holandesa releva-se muitas vezes mais um sinal de cobardia do que respeito pelo outro. Com o medo de chocar, escondem-se emoções e pensamentos fundando uma paz podre. Tendo por exemplo, o Museu da Diáspora Africana, em São Francisco; a verdade histórica é apresentada sem qualquer sentimento de pena. Assume-se a escravidão, a pobreza ou a deslocação forçada e celebra-se o presente e um futuro onde diversidade é cor e música de tambores. É ESPERANÇA!

Por esta razão, no meio dos olhares de gente que olha para a pintura de um negro como para um objecto dum gabinete de curiosidades; para além da minha amiga morena preta de Angola, apenas um senhor do Suriname se atreveu a entrar. Sobre as obras em específico, temos de Íris Kensmil a vertente mais politizada. A tela Zwarte Dagen foi baseada numa foto da filósofa negra Angela Davis sobre o movimento Associated Black Panthers e 12 memorial tablets expostos aqui e acolá nas colunas de uma das alas da igreja lamentavelmente de difícil leitura; prestam homenagem a Granny Nanny (heroína nacional da Jamaica); Maria Stewart, a primeira mulher negra defensora dos direitos das mulheres, ou do nacionalista surinamês Anton de Kom. Enquanto, Charlotte Scheiffert se refere à força das mulheres negras – super-vaidosas, super-fortes, super-mães –, o trabalho de Marlene Dumas é sem dúvida, o mais apelativo. São expostos 44 desenhos coloridos que são recortes de jornais, reproduções ou fotos transformadas de algo que anteriormente exprimia preconceito. O seu retrato de Nelson Mandela enquanto jovem, apenas um pouco antes de ser sentenciado a viver na prisão, tem como especial impacto o seu título, Would you trust this man with your daughter? O contraste entre o carisma desta figura mundial e a sua sentença diz tudo.

A limitação a que alguns se submetem e a flexibilidade doutros são representados a estilo de anedota por Îna van Zyl. Ela construiu uma banda desenhada onde uma patroa pergunta numa vinheta: “Rosália, Rosa, qual é o teu verdadeiro nome?”, ao qual a criada negra responde “O meu verdadeiro nome é Rosa ou Nonceba”. Do movimento COBRA foi Anton Rooskens quem mais se inspirou nos temas africanos devido às suas expedições ao Congo e ao Uganda. E de Karel Appel temos numa das vitrinas, um retrato de um negro (1945) sugerindo em toda a sua força expressionista o jazz, que como música originária da comunidade negra americana, era uma clara contestação aos nazis que ainda então ocupavam a Holanda.

Do início do séc. XX, dois quadros de Jan Sluijters representando um negro e uma negra foram concebidos segundo um elevado estudo sobre a cor mas, talvez ainda mais interessantes sejam duas outras telas de Isaac Isräels. Negerbokser retrata Battling Siki, o primeiro boxeur negro a actuar nos Países Baixos, num brilhante jogo de contrastes luminosos sobre a sua pele. É de especial interesse igualmente, a maneira como captou o vigor das danças guerreiras dos Ashanti, onde se sente a pujança dos seus saltos.

Esta exposição destaca-se ainda pelas obras de Rubens, das representações do Rei Mago Baltazar (uma das primeiras representações de figuras negras na história da pintura), dos meninos negros como criados de senhoras nobres ou das obras de grande interesse histórico sobre a colonização holandesa no estado brasileiro de Pernambuco. Muito interessante! Pena que o registo geral da exposição seja como uma pintura de Frans Post, sobre a fábrica de açúcar: não se trata de uma reprodução realista mas, de uma peça decorativa onde os traços da senzala se tornam unicamente numa paisagem idílica. Tal atitude existiu e tem que ser mostrada…, porém na mesma medida, em que a infâmia no pleno da sua crueldade foi também retratada e que aqui se procurou ocultar.


Nuno Lourenço

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Estão abertas as inscrições, até 29 de setembro de 2008, para o Programa Nacional de Bolsas da Funarte, que vai distribuir cem bolsas de R$ 30 mil a a



Funarte distribui cem bolsas de estímulo à criação e à reflexão crítica sobre as artes



Com formato inovador, o programa viabiliza a produção de obras e estudos em artes visuais, música, artes cênicas e literatura.

Segundo o presidente da Funarte, Celso Frateschi, as bolsas garantem condições materiais para o desenvolvimento do projeto e possibilitam a dedicação exclusiva do bolsista. "Isso favorece a profissionalização do setor e o aprofundamento do trabalho artístico", explica.

Os contemplados receberão as bolsas em três parcelas e terão seis meses para executar seus projetos. O edital prevê que todas as regiões do país sejam atendidas, em um esforço de descentralização dos recursos da fundação, de acordo com as diretrizes do Ministério da Cultura. O investimento total da Funarte no programa é de R$ 3,7 milhões.

As BOLSAS DE ESTÍMULO À CRIAÇÃO ARTÍSTICA serão destinadas a projetos de criação e pesquisa de linguagens nas áreas de 'artes visuais', 'literatura', 'dança', 'dramaturgia', 'fotografia', 'música popular' e 'música erudita'. Serão concedidas duas bolsas para cada uma dessas categorias em cada região do país, totalizando setenta bolsas. Os artistas e profissionais contemplados deverão desenvolver trabalhos inéditos, com o objetivo de ampliar a produção e a difusão das artes no Brasil.

Além de fomentar a produção, a Funarte busca, com as BOLSAS DE ESTÍMULO À PRODUÇÃO CRÍTICA EM ARTES, estimular a reflexão sobre as manifestações artísticas contemporâneas. Críticos, pesquisadores, artistas, professores, estudantes e outros profissionais das artes podem inscrever seus projetos nas categorias 'artes visuais', 'dança', 'música', 'teatro', 'interfaces dos conteúdos artísticos e culturas populares' e 'conteúdos artísticos em mídias digitais/internet'. Será concedida uma bolsa para cada uma destas categorias em cada região brasileira.

Celso Frateschi afirma que a Funarte quer contribuir para a produção intelectual sobre artes visuais, música e artes cênicas, além de investir em fotografia, literatura e mídias digitais. "Pretendemos também ampliar a discussão em todo o país sobre cultura popular, não em seu sentido mais genérico, mas no que diz respeito às manifestações artísticas populares brasileiras", define.

Os interessados devem enviar à Funarte seu projeto, acompanhado de currículo e ficha de inscrição, somente pelos correios, até 29 de setembro de 2008. As propostas aptas a concorrer às bolsas serão julgadas por comissões formadas por profissionais de notório saber em cada uma das categorias, de todas as regiões do país.

BOLSAS FUNARTE DE ESTÍMULO
À CRIAÇÃO ARTÍSTICA

>> Edital
>> Ficha de inscrição
>> Modelo de contrato

CATEGORIAS
Artes visuais
Desenvolvimento de projetos de criação individual nos segmentos que compõem as Artes Visuais contemporâneas, resultando em ações, obras ou processos inéditos para apresentação ou exposição pública.
Mais informações: bolsaartesvisuais@funarte.gov.br

Criação literária
Desenvolvimento de projetos de criação literária individual nos gêneros lírico e narrativo (conto, crônica, novela, poesia, romance), resultando em obras inéditas para publicação ou divulgação pública.
Mais informações: cepin@funarte.gov.br

Dança (coreografia)
Desenvolvimento de projetos de criação coreográfica individual para espetáculo em dança contemporânea, resultando em obras inéditas para montagem ou divulgação pública.
Mais informações: editaisdanca@funarte.gov.br

Dramaturgia
Desenvolvimento de projetos de criação dramatúrgica individual para teatro adulto ou teatro para infância e juventude, resultando em obras inéditas para montagem ou divulgação pública.
Mais informações: editaisteatro@funarte.gov.br

Fotografia
Desenvolvimento de projetos de criação fotográfica individual nos segmentos que compõem a Fotografia contemporânea, resultando em ações, obras ou processos inéditos para apresentação ou exposição pública.
Mais informações: bolsafotografia@funarte.gov.br

Música (composição erudita)
Desenvolvimento de projetos de criação e composição em Música Erudita para orquestra sinfônica, orquestra de câmara ou quartetos, entre outras formações, resultando em obras instrumentais inéditas para apresentação pública.
Mais informações: comus@funarte.gov.br

Música (composição popular)
Desenvolvimento de projetos de criação e composição em Música Popular em seus diversos gêneros, resultando em obras inéditas para apresentação pública.
Mais informações: comus@funarte.gov.br

BOLSAS FUNARTE DE ESTÍMULO
À PRODUÇÃO CRÍTICA EM ARTES

>> Edital
>> Ficha de inscrição
>> Modelo de contrato

CATEGORIAS
Artes visuais
Reflexão crítica sobre atividades ou processos, artistas, grupos de artistas ou instituições, nos segmentos que compõem as artes visuais contemporâneas no Brasil.
Mais informações: bolsacriticaartesvisuais@funarte.gov.br

Dança
Reflexão crítica sobre atividades ou processos, artistas, grupos de dança, coreógrafos ou instituições, nos segmentos que compõem as manifestações em dança contemporânea no Brasil.
Mais informações: editaisdanca@funarte.gov.br

Música
Reflexão crítica sobre atividades ou processos, artistas, compositores, grupos de música ou instituições, nos segmentos que compõem as manifestações em música contemporânea, tanto no campo popular como no erudito.
Mais informações: comus@funarte.gov.br

Teatro
Reflexão crítica sobre atividades ou processos, artistas, diretores, grupos teatrais ou instituições, nos segmentos que compõem as manifestações teatrais contemporâneas no Brasil.
Mais informações: editaisteatro@funarte.gov.br

Interfaces dos conteúdos artísticos e culturas populares
Reflexão crítica sobre atividades ou processos, artistas, grupos ou instituições, nos diversos segmentos que compõem as manifestações artísticas contemporâneas, onde possam ser identificados e reconhecidos diálogos ou referências concretas com expressões, artistas ou processos históricos da chamada cultura popular.
Mais informações: cepin@funarte.gov.br

Conteúdos artísticos em mídias digitais/internet
Reflexão crítica sobre atividades ou processos, artistas, grupos ou instituições, nos diversos segmentos que compõem as manifestações artísticas contemporâneas, onde possam ser identificados e reconhecidos diálogos, experiências, produtos ou referências concretas nas chamadas mídias digitais, de comunicação ou na veiculação ou difusão por meio da Internet.
Mais informações: cepin@funarte.gov.br

domingo, 17 de agosto de 2008

Arte Atual- Isabela Prado.Trajetórias 2008-Fundação Joaquim Nabuco Visitação: de 08/08 a 14/09/2008,


Anamneses do corpo

Por Maria do Carmo Nino, Coordenadora de Artes Plásticas da Fundaj e curadora do Projeto Trajetórias

“O meu olhar é nítido como um girassol”.
Fernando Pessoa

Ordinariamente nossa experiência no espaço se dá de tal maneira que não passa pela nossa consciência que ele é o elemento no qual estamos imersos. Assim, o espaço em torno de nós se torna de certa forma tão invisível quanto o espaço em nós. Com recursos simples e de maneira direta, Isabela Prado nos estimula para o descobrimento de um espaço humanizado fora da lógica regida por convenções habituais. Na instalação interativa intitulada A 1:57 m, desde que tenhamos uma altura superior à indicada, de modo que nossa cabeça fique acima dos elásticos estendidos de ponta a ponta na sala, somos confrontados com uma curiosa experiência espacial onde o piso se vê visualmente em parte obliterado, provocando uma certa sensação de desterramento, de perda do chão. Em situação diversa, se tivermos a altura menor ou igual à da artista, a perda da referencialidade parcial do teto vem acompanhada de uma sensação que será a de exigüidade do espaço, causando um certo desconforto. Tudo se passa como se esta obra provocasse uma abundância de sensações do espaço e de sua consciência para nós, onde o exterior / interior e o alto / baixo tornam-se limites momentaneamente inoperantes. Como conseqüência, toda a nossa experiência interior se revela como realidade exterior através de um lugar situado fora de nós mesmos, suscitando necessariamente várias impressões, que podem ter contornos mais lúdicos, indo até uma reflexão mais interiorizada sobre isolamento ou sobre ponto de vista, tanto no sentido espacial, como no ‘sentimento a respeito de algo’.

O vídeo Aguapé apresenta em sua extrema simplicidade um deslocamento em relação à direção da força gravitacional ao qual nosso próprio corpo é submetido, mas que nossa percepção, habituada aos inúmeros locais de onde se dão as narrativas presumivelmente assumidas pela câmara em cinema e em vídeo, logo apreende. Este enquadramento permite que compactuemos com a artista a percepção do exato lugar a partir de onde a ação se conta, como se fôssemos uma extensão de seu próprio corpo.

Na medida, porém em que o vídeo se desenrola, a nossa reflexão assume também uma outra perspectiva, ao deparar-se com a contínua ação da água sobre a areia, moldando-a, agindo sobre a sensação de equilíbrio do (nosso) corpo. Somos assim gradualmente convidados a agregar valores significantes à repetição em ritmo cíclico, à ritualização, ao cotidiano, à duração, à memória: um corpo que, para resistir e permanecer de pé, precisa adaptar-se às novas conformações do terreno.

Em Cebola, mais uma vez a perspectiva do enquadramento é cuidadosamente abordada de maneira a que nossa percepção seja solicitada em termos de consciência de onde se dá a narrativa, porém, contrariamente ao outro vídeo, vemo-nos colocados principalmente na posição de observadores, onde o anteparo transparente através do qual se percebe a ação funciona como um desdobramento da própria lente da câmara, enfatizando a distância.

Na medida em que ação acontece e perdemos o contato visual com o que e quem está por trás do anteparo, um isolamento se estabelece e mais uma vez somos incitados a mergulhar no universo da nossa própria memória, do cotidiano, do ritual impregnado na repetição dos gestos que deixam marcas na superfície, tingindo-a de branco, uma cor que favorece o processo de interiorização e que remete à espiritualidade, além de ter recorrência no percurso da artista.

quinta-feira, 7 de agosto de 2008

Textura, cheiro e sabor de performance coletiva no Murilo La Geca.



Em Recife museu Murilo La Greca vem implementando interessantes propostas em suas atividades, pautas.A começar pelo edital "AMPLIFICADORES" que a cada ano seleciona propostas curatoriais de exposiçoes coletivas onde o propositor/curador tb pode ser um dos artistas a expor na mesma.Ou seja um momento singular onde tanto o curador tradicional pode continuar a fazer seu trabalho(não é obrigada a participação deste como artista) como também dá cabo das multifunções que um "artista etc" assume, resolve cumprir.E agora me surprende mais uma vez.Que bom!
Já em sua segunda edição o Projeto Cardápio "O projeto reune artistas interessados na relação que o alimento desencadeia na vida das pessoas. O ato de comer inaugurando sensações e percepções num ritual elaborado por esses artistas, trazendo esta experiência diária para o campo das artes" diz Beth da Mata(diretora da instituição).

Além da coordenação do projeto serão desenvolvidos cardápios com ilustrações, textos e imagens para cada encontro ao longo de 2008. Dois artistas selecionados convidam mais um para completar o menu que se compõe por: entrada, prato principal e sobremesa.

Todo mundo já deve ter ouvido que cozinhar é uma arte, mas nesse caso é só o pretexto para que a arte aconteca de maneira natural e despretenciosa .Uma legítima performance coletiva, "ao vivo" como poderia afirmar cristiano lenhardt

domingo, 20 de julho de 2008

ESPAÇO ASIÁTICO: OUTROS CENTROS, OUTRAS VISIBILIDADES?



O carácter transversal dos fenómenos globais tem esbatido o fosso entre culturas, trazendo para o centro das atenções, embora com diferentes intensidades, zonas que se encontravam arredadas dos núcleos centrais. A problematização (quase banalização) em torno dos binómios local/global e centro/periferia tem vindo a desmistificar o papel preponderante do eixo euro-americano, sem que isso implique um decréscimo da importância do seu posicionamento. O significado de tal desmistificação reflecte-se antes na possibilidade de outros contextos poderem partilhar a visibilidade outrora reservada aos tradicionais centros culturais. Para lá dos constrangimentos que possam persistir em qualquer contexto, a zona da Ásia Pacífico tem renovado determinados processos práticos e teóricos. O crescimento económico chegou com grande força através do Japão, tendo-se alargado a Hong Kong, Taiwan, Coreia do Sul, Singapura e posteriormente à China e à Índia. Pelo rumo da liberalização económica, e com as relações de distância e proximidade geradas pela competitividade, os países asiáticos, nomeadamente os do Extremo Oriente, procuram um lugar de destaque dentro do próprio contexto. A descentralização expandiu-se ao domínio cultural, suscitando novas abordagens artísticas e curatoriais, que têm vindo a ampliar um trabalho de pesquisa e auto-conhecimento. Neste sentido, tais abordagens constituem um núcleo múltiplo de interface artístico com um novo relevo no plano internacional.

A primeira fase dinâmica ocorreu logo no início dos anos noventa, coincidindo com uma conjuntura global vulnerável às transformações sociais e políticas, como o indiciam a abertura económica da China, o fim do modelo comunista/marxista da U.R.S.S., a queda do muro de Berlim e o massacre de Tiananmen, ambos em 1989. A arte contemporânea era então um campo desconhecido para a maioria dos públicos das cidades asiáticas, assim como era praticamente nulo o apoio à educação e à divulgação artística por parte do Estado. O estabelecimento de museus e centros de arte contemporânea em algumas cidades é bastante recente. Muitos deles adoptaram as siglas de museus ocidentais – um direito compreensível mas que não deixa de constituir um aspecto curioso tendo em conta que os conceitos de moderno e contemporâneo assumem contornos muito próprios nos diversos contextos e na programação dos museus.

O impulso artístico deve-se sobretudo ao despontar de espaços alternativos e ao apoio de mecenas privados. Dirigidos maioritariamente por artistas e jovens curadores, os espaços não foram constituídos de forma simultânea ou linear. Embora dependendo da heterogeneidade de cada cidade, perspectivaram objectivos idênticos quanto à experimentação e à ligação em rede para a construção de estratégias comuns, em locais onde as políticas culturais eram deficientes. Hong Kong e Pequim foram as primeiras cidades onde apareceram espaços dedicados à experimentação artística. A partir de 1998/99 outras cidades seguiram os seus passos: Seoul (SSamziespace, IIju Art House, Insa Art Center, Project Space Sarubia, Pool, Loop), Manila (Big SkyMind), Singapura (Plastique Kinetic Worms, The Artists Village), Tóquio (Ichi Ikeda Art Project), Cantão (Libreria Borges, Vitamin Creative Space, Big Tail Elephants, Yangjiang Group, U-thèque), Macau (Ox- Warehouse), Taipé (Whashang Art District, Bamboo Curtain Studio20), Xangai (Island6), Pequim (Loft New Media Art, Art Gas Station, Warehouse, Xray Art Center) e Hong-Kong (Cattle Depot Artist Village - 1aspace, Artist Comune e Videotage -, Fringe Club, Para/Site Art Space, Zuni Icosahedron).

Embora este género de espaços contribuisse inquestionavelmente para as dinâmicas culturais locais, a sua continuidade via-se constantemente ameaçada por diversos problemas subjacentes à organização de cada cidade. Por exemplo, no caso de Hong Kong, as dificuldades residiam na especulação imobiliária entre os sectores público e privado, dando azo a que os espaços mudassem sistematicamente de lugar. No caso de Pequim, para além deste problema em comum, assistiu-se também a um fosso entre a comunidade artística e os organismos do poder, que originou o encerramento de alguns espaços. A sua sobrevivência sempre dependeu por isso da conjuntura interna. Este cenário só foi alterado quando o trabalho desenvolvido pelos espaços alternativos começou a ganhar contornos que lhes permitiu ter algum relevo e reconhecimento. Cada espaço é um caso particular mas, de uma forma geral e progressiva, a maioria conseguiu cativar o interesse do público, obtendo mesmo cooperações do Estado a curto e médio prazo. Tal facto é um prenúncio de que os governos das cidades se tentam reajustar às novas circunstâncias, ainda que de modo inconstante e moroso. Presentemente, o âmbito de desempenho dos espaços é múltiplo, abrangendo as artes visuais e performativas (teatro experimental e dança), net-art, cinema documental, música, multimédia, design, publicações e organização de conferências. A linha programática é igualmente diversa, privilegiando a divulgação de nomes emergentes, focando-se na residência de artistas, no intercâmbio com outros países ou na aproximação à comunidade. Por isso mesmo o significado de “alternativo” no contexto asiático sempre se traduziu numa atitude de empenho e demanda. As acções do-it-yourself (DIY) fazem parte da postura do artista como algo natural, alargando-se previsivelmente ao trabalho curatorial. Circunscritos a contextos que foram desde sempre instáveis para as práticas artísticas, muitos procuraram experiências profissionais em países estrangeiros.

A segunda fase chegou no rescaldo da crise asiática de 1997-99, sensivelmente a partir de 2001, com a constituição de pólos museológicos, com o aumento de trienais e bienais, feiras de arte, com o deslocamento de curadores ocidentais para esta parte do mundo e de curadores asiáticos para o cenário ocidental. O dinamismo suscitou uma outra vaga de diálogos entre curadores e teóricos de diversas áreas para negociar novas formas de interculturalidade. Os campos de discussão cruzam locais e abordagens, integrando um leque de assuntos que vai desde o papel do Museu de Arte Contemporânea e do curador, passando pelos modelos expositivos e pelas políticas culturais, até aos valores asiáticos e ocidentais. No pano de fundo dos encontros culturais sente-se uma inquietação relativamente à renovada posição asiática e à sua ligação com os países ocidentais. A inquietação não consegue evitar um tom pendular entre o paternalismo do Ocidente, que se quer redimir pelos erros cometidos, e a desconstrução de conceitos que despertaram sentimentos antagónicos relativamente ao mundo ocidental. Não é fácil estabelecer vínculos transnacionais entre contextos com características tão diferentes mas, de certo modo, alguns debates tendem a ser repetitivos focando questões que deviam estar já ultrapassadas. Os “valores asiáticos” são significantes emocionais defendidos pelas camadas políticas de alguns países face à hegemonia do mundo ocidental enquanto poder colonizador. Segundo Amartya Sen, a exortação de tais valores provém geralmente de ambiguidades políticas internas que surgem para justificar o autoritarismo. Existe de facto uma atitude de “triunfalismo”; frases como “estamos finalmente centrados” fazem já parte da consciência asiática. Tal como a Europa, os países asiáticos partilham alianças, histórias e objectivos entre si. Constituem-se efectivamente micro e macro-regiões, onde se reivindicam outras posições. É plausível que nos diferentes cenários cresçam sentimentos nacionalistas (no sentido mais negativo do termo) e intolerâncias civilizacionais que infelizmente se revelam um pouco por toda a parte.

A importância que a Ásia assumiu é tão irrefutável, quanto é complexa a sua estrutura. A própria expressão “Ásia” não deixa de conter uma conotação abstracta quando olhamos a diversidade que a caracteriza. Entre outros aspectos, está aqui implícito o facto de o seu desenvolvimento económico e cultural não ter sido homogéneo. Neste sentido, a China apresenta-se como um paradigma de sucesso, o que obviamente não a exime de algumas problemáticas que transporta consigo. A visibilidade que a arte contemporânea chinesa conquistou durante as últimas décadas foi integralmente granjeada via circuito internacional. São vários os factores que contribuíram para a situação mas, entre eles, destacam-se dois: por um lado, a enorme receptividade por parte do mundo ocidental, sintoma da curiosidade por culturas não ocidentais, por outro lado, a inexistência a nível local de um ambiente propício à criação e à produção artística, que deu origem à emigração de muitos artistas. A arte contemporânea era observada como algo a recear, considerada subversiva e os artistas eram perseguidos se o conteúdo da sua obra fosse lesivo ao poder. Os poucos espaços alternativos que existiam eram os únicos sítios onde podiam expor os seus trabalhos.

O panorama mudou quando as obras compradas pelos coleccionadores e museus começaram atingir valores astronómicos. De qualquer forma, os apoios das instituições públicas chinesas continuam a ser uma realidade ambígua e delicada com que se tem de lidar a nível interno. Entretanto os artistas chineses têm adoptado atitudes contraditórias face ao próprio sucesso: ora assumem uma postura crítica quanto ao apetite excessivo dos países ocidentais pela conjuntura chinesa, mais do que pelo processo artístico; ora aderem totalmente ao sistema, procurando incluir na sua linguagem elementos que vão de encontro às expectativas do público; há outros que optam ainda pela discrição mantendo a sua linguagem artística distante do mainstream. Apesar de todos os benefícios que trouxe num curto espaço de tempo, o interesse gerou um “novo exotismo” obcecado pela diferença cultural, que é continuamente alimentado pelo mercado artístico. Com a especulação a que estão sujeitas, as obras correm o risco de se transformarem num produto massificado muito dependente das lógicas do mercado e dos públicos. Num momento em que proliferam as exposições de arte contemporânea chinesa – que chegam a incluir retrospectivas em museus ocidentais de renome internacional, ou semanas inteiras dedicadas ao tema – parece-me conveniente fazer uma pausa para pensar sobre este mediatismo e sobre o que ele traz de positivo e negativo para os artistas.

O protagonismo chinês foi uma das razões que me levou a investigar in situ as reacções locais a este fenómeno. Directamente ligada a esta, a segunda razão prende-se com a grande heterogeneidade do contexto chinês. Ainda que partilhem uma tradição cultural com o continente, as cidades do Sul da China (Hong Kong, Cantão, Macau e Taiwan na sua condição particular) construíram realidades linguísticas, políticas e sociais diferentes. É ponto assente que os artistas transportam experiências e linguagens que extrapolam os limites regionais. Mas também é um facto que as especificidades locais fazem parte da sua existência enquanto processo dinâmico, não devendo ser escamoteadas. Conhecer o tipo de elo que as diferentes comunidades mantêm (ou não) entre o presente e o passado recente, seja um passado colonial ou um regime autoritário, revela-se necessário para compreender determinados percursos artísticos. A permeabilidade linguística é uma prerrogativa tão vincada nas realidades chinesas que, dependendo do envolvimento com cada local, assume diferentes intensidades e, excedendo a sua condição real, é eleita pelos artistas como referente e como estratégia de abordagem a essa ligação com o passado. O mesmo se passa com as particularidades urbanas, cada vez mais apontadas como uma extensão relacional dos processos artísticos que entrecruzam o quotidiano, as artes visuais e a curadoria.

As comunidades artísticas de Hong Kong, Cantão e Taiwan, apesar de bastante activas, não partilham o sucesso chinês. A sua posição é pouco debatida internacionalmente, como é pouco conhecido um certo ressentimento induzido por esse sucesso alheio, que provoca ainda a destabilização dos mercados artísticos internos. Artistas e curadores de Hong Kong e Taiwan contemplam o sucesso chinês através do diálogo entre si: «Ambos, Hong Kong e Taiwan representam a sociedade chinesa, altamente modernizada. Todavia, a China, como continente, vê chegado o seu momento, no seu desenvolvimento económico, bem como na sua importância em diferentes plataformas mundiais (…) Hong Kong e Taiwan estão a entrar cada vez mais em desequilíbrio. Os aspectos económicos, culturais e políticos produziram imensas tensões e impasses. Mesmo na cena da arte contemporânea, à medida que a arte chinesa conquista a ribalta internacional, os artistas de Hong Kong e de Taiwan são marginalizados. Ao lidar com o perfil comum e divisionário da prática artística contemporânea face a tal situação, o projecto aspira evocar um novo paradigma discursivo que possa restaurar a plataforma da nossa própria subjectividade, de modo a participar no mundo global.»(1)

O press release da exposição “A Realm With No Coordinates”, um projecto de parceria entre as duas comunidades realizado em 2006, revela bem o tom ressentido que despertou localmente. O projecto entende que um cruzamento entre realidades criativas diferentes pode alterar um aspecto comum a ambos os territórios, isto é, pode ajudar a ultrapassar posicionamentos discretos capazes de desfrutarem também do relevo internacional. O discurso de “união de forças” pelo qual optaram não será a solução para ultrapassarem a sua existência discreta, sobretudo quando ela nem sempre se pauta pela qualidade das obras ou pela criatividade. O sucesso chinês deriva de uma série de circunstâncias externas e internas às quais não são alheias as trajectórias históricas e as contradições do mundo contemporâneo. O talento criativo deveria ser suficiente para garantir o desejo incondicional de todo o artista de ver reconhecido o seu trabalho. Obviamente não o é. Os critérios de inclusão, circulação e recepção das obras continuarão a ser condicionados por mecanismos inconstantes próprios do mundo artístico.

Os próximos textos são fruto do diálogo estabelecido com as comunidades artísticas de Hong Kong, Macau, Xangai e Pequim que, embora diferentes entre si, não deixam de compartir problemáticas semelhantes. Ao longo da investigação várias questões foram surgindo: Que ligações se estabelecem entre as várias comunidades chinesas e a China continental? Será legítimo falar de diferenças culturais e identitárias em relação a estes contextos? De que especificidades se revestem estas diferenças? Como é observado o internacionalismo da arte chinesa na própria China, e como encontramos o seu panorama artístico em cidades como Xangai e Pequim? Como se desenvolvem as estruturas da arte contemporânea em termos de instituições, espaços e mercado interno? Que apoios existem para os artistas e para a arte contemporânea nos diferentes sistemas chineses?

A proximidade possibilita uma outra percepção de realidades que a distância geralmente desvirtua. Nesta proximidade nem tudo é claro, simples ou acessível. Pelo contrário, a estranheza que nos suscita um lugar distante da nossa realidade cultural nunca é totalmente ultrapassada. Mas esse sentimento, que na China toma proporções sinuosas e intensas, faz parte de um extraordinário processo de aculturação que não deixa ninguém indiferente.


Sandra Lourenço

quinta-feira, 3 de julho de 2008

28º Bienal de São Paulo





Premissa

Em 1951, no texto de abertura do catálogo da I Bienal do Museu de Arte Moderna de São Paulo, Lourival Gomes Machado, Diretor Artístico do museu, escrevia:

“Por sua própria definição, a Bienal deveria cumprir duas tarefas principais: colocar a arte moderna do Brasil, não em simples confronto, mas em vivo contato com a arte do mundo, ao mesmo tempo em que, para São Paulo se buscaria conquistar a posição de centro artístico mundial”. (pg. 14).



O tom otimista, a retórica cheia de esperanças, o engajamento com um tempo de reconstrução do mundo depois dos terríveis episódios da II Guerra Mundial, soam hoje como uma profecia, o lançamento de uma utopia, que cinqüenta e oito anos depois se realizou: São Paulo converteu-se num centro artístico internacional, uma cidade cosmopolita, uma referência na cena artística globalizada, enquanto o Brasil tornou-se um ponto de atração para artistas, curadores, galeristas e colecionadores internacionais. Artistas Brasileiros ocupam posições de destaque dentro da história e do discurso da modernidade pós-guerra, assim como na produção da visualidade contemporânea. Os objetivos de 1951 foram alcançados.

A pergunta que poderia ser colocada agora é se não seria o momento da Bienal de São Paulo avaliar e talvez considerar a possibilidade dela ter de se transformar ou substituir-se dentro de uma cidade com seis museus de arte, assim como uma série de centros culturais ativos e diversificados com programações sistemáticas de arte contemporânea local e internacional (vários com orçamentos proporcionalmente maiores que o da Bienal). Sem deixar de lembrar o panorama de coleções particulares importantes e representativas dentro do país, e a robustez do mercado de arte brasileiro local e internacional que a Bienal ajudou a consolidar, qual o papel que a Bienal desempenha hoje, como instituição pioneira no país e no continente, uma vez que também esses circuitos cresceram e se profissionalizaram, sendo parte de um sistema cultural globalizado? Talvez, uma pausa para um processo de auto-reflexão e crítica pudessem apontar para uma série de soluções coerentes para uma instituição que está se tornando redundante em seu contexto local e é incapaz de apresentar uma perspectiva crítica da era globalizada na qual está inserida. Deve-se notar, porém, que isso não é fenômeno ou prerrogativa endêmica meramente à Bienal de São Paulo. As condições são visíveis em muitas outras Bienais.

O modelo oitocentista de Bienal tem sido, desde o final dos anos 80, a estratégia mais usada por cidades e suas elites econômicas e políticas de ganharem visibilidade na aldeia global. A representação nacional não é mais o modelo vigente dentro das Bienais, porém uma política cultural baseada em identidade nacional prossegue mesmo em uma época na qual a função e o significado de fronteiras nacionais são questionados. Já são quase uma centena de bienais ao redor do mundo, todas mais ou menos trabalhando questões semelhantes, circulando diversas praticas artísticas de forma normativa. Está evidente que nesse contexto o modelo de Bienal tem possibilidades limitadas para uma faculdade crítica e um engajamento local, posto que opera dentro de um mecanismo que se alimenta e se reproduz como cogumelos, incessantemente. Como pode a Bienal de São Paulo reavaliar esse fenômeno cultural que se propaga em centros históricos (Veneza, por exemplo) assim como cidades que até recentemente eram vistas como sendo marginalizadas (Xangai, por exemplo) da mesma maneira? Que papel crítico pode a Bienal de São Paulo ter em uma época de consumo e turismo cultural? De que maneira pode ela trazer uma contribuição produtiva ao enquadramento deste debate com base na sua história e experiência como primeira instituição de seu gênero fora dos centros hegemônicos? Sistematizar uma reflexão sobre as bienais hoje, reavaliando suas qualidades e objetivos, revendo a sua agenda e sua função, pode representar uma possibilidade para a Bienal de São Paulo de retomar um papel dentro das muitas e diversas mostras de artes visuais periódicas que povoam o mundo no século XXI.

Recentemente, um novo fenômeno, no formato de um circuito global de feiras de arte, tem entrado em competição com as Bienais. Artistas freqüentam ambos os eventos, enquanto curadores incluíram a primeira como espaços privilegiados de pesquisa e como uma alternativa a visitas de estúdios de artista. Mas elas não são a mesma coisa: enquanto a feira de arte é um espaço primeira e principalmente comercial, de venda, a Bienal quer ser um de trocas livres e confrontos entre artistas, curadores, críticos e o público de arte. O que há sim é uma relação pouco transparente entre essa diferença fundamental, algumas feiras de arte apresentam sérios programas de palestras e exposições curadas, enquanto as Bienais se tornam cada vez mais dependentes do apoio de galerias no financiamento de participações de artistas. Afinal é notável o fato de que muitos dos projetos importantes desenvolvidos por artistas e apresentados em bienais, só foram possíveis porque foram financiados por suas galerias. E isso não é mau em si. O problema está em as Bienais, que, como tradicionais instâncias legitimadoras da arte contemporânea, agora estão em perigo de se tornarem meros agentes de um mercado ávido por carne fresca e pela insolência de artistas rebeldes, cujos trabalhos, colados com fita crepe, se convertem imediatamente em mercadoria sofisticada. Pior, considerando a perspectiva local inserida no circuito global em que as Bienais operam, elas correm o risco de se tornarem provedoras de um exotismo para o consumo de uma diversidade cultural, racial, e econômica, assim como álibis políticos e sociais do capitalismo transnacional.

Talvez, neste momento, todas as Bienais careçam de uma pausa para reflexão, de sistematizar conhecimento e experiência, e procurar especificidade e pertinência numa época em que o modelo parece criticamente exaurido e trivial (nada de novo, pois já se falava disso ao final dos anos 60, e então elas, as Bienais, eram pouco mais que doze!).

Talvez as Bienais, apesar do fluxo incessante de imagens, representações, e diversidade das práticas artísticas, e da voracidade da economia que alimenta o circuito, pudessem recuperar posições válidas se elas estivessem fundadas nas singularidades dos seus lugares de origem, localizadas nas demandas imediatas das regiões em que se inscrevem. Em lugar de tentar produzir uma visão totalizante e representativa da Arte, trata-se, talvez, de redirecionar sua vocação para delinear especificidades, produzir cartografias detalhadas, pondo em marcha um processo de trabalho investigativo e crítico, formal e sistemático, que questione, de modo produtivo, os movimentos e transformações percebidas num circuito pré-determinado, incluindo seus ecos e reverberações.

A 28ª Bienal de São Paulo se articulará em quatro componentes:

I – Praça

Os espaços do primeiro andar e do térreo terão uma ocupação e função diferentes do seu uso tradicional como espaço expositivo. O prédio será aberto à outra disposição, propondo uma nova relação entre a Bienal e seu entorno, o parque, os outros museus, a cidade. No primeiro andar (na parte que corresponde ao princípio da rampa de acesso ao segundo andar) serão colocados os serviços da exposição (bilheteria, receptivos, livraria, informações, meeting point, monitores, banheiros, lanchonete, elevadores, etc) e um conjunto de lounges para Internet e vídeo monitores, com uma extensão da Biblioteca no terceiro andar.

Os caixilhos e vidros que hoje fecham o térreo e o primeiro andar a partir da rampa serão removidos para que aquela área abra-se para o parque como uma grande praça, conforme o desenho original do projeto de Oscar Niemeyer. As jardineiras que ali um dia existiram serão restauradas aos seus lugares e o espaço será reabilitado (renovado). Uma série de acontecimentos se dará durante os 42 dias da exposição. Articulado com pequenos palcos, assentos e mobiliário, o espaço será projetado para acomodar áreas para discussão, teatro, performances, música, cinema e conversas com artistas, curadores, críticos, músicos, escritores, arquitetos.

A praça pública busca ser um espaço democrático, a ágora na tradição da polis, um território de encontros, confrontos, fricções. Um espaço para gerar energia, permitindo a aeração do prédio e dos programas da instituição. Além do sentido simbólico da Bienal de São Paulo abrir-se para rever e reafirmar seu lugar na cidade, a abertura desta parte do edifício resgatará o projeto original do pavilhão, pensado como uma praça para exibição de grandes equipamentos industriais, a serem contemplados dos terraços do mezanino.

II – O Vazio

A exposição do espaço vazio do segundo andar do pavilhão será um gesto radical de afirmando o ato de suspensão, elaborando uma análise sobre o modelo das bienais e seu papel no mundo contemporâneo. Esse gesto simbólico toma o vazio como o lugar onde as coisas são em potência, pleno e ativo, ao contrário de uma manifestação niilista, onde as coisas deixam de ser e perdem o sentido. Ele é fonte geradora, o território do devir, com múltiplas possibilidades e caminhos.

A apresentação teatral busca acentuar o caráter simbólico do ato de suspensão da exposição, para instaurar um momento de reflexão, o espaço vazio remete primeiro à avaliação de um processo, de verificação de seu estado e qualidade, assim como à intensa atividade artística que toma a cidade por ocasião das Bienais.

III – Biblioteca: Conferências, Documentos, Arquivo

No terceiro andar, no espaço climatizado, será instalada uma grande biblioteca, composta por um arquivo, um auditório, uma arena, uma sala de reuniões, uma sala de leitura grande, uma sala fechada para computadores e acesso a rede eletrônica, e uma coleção de catálogos, se possível, de todas as bienais no mundo hoje. Com o mesmo espírito da Praça no térreo, esse segmento tem como função ser o centro gerador de um conhecimento sistematizado sobre a própria Bienal de São Paulo, o modelo das bienais, o que elas representam, para pensar que futuro se pode querer para elas. Se a praça no térreo é o espaço do encontro, da energia epidérmica, sob a regência da intuição e dos sentidos, o conjunto do terceiro andar é o território da razão, o tempo e o lugar do registro da experiência, de colher e sistematizar o conhecimento, e pôr em prática uma reflexão organizada. Este segmento será articulado a partir do acervo do Arquivo Histórico Wanda Svevo, o único e mais valioso patrimônio da Fundação Bienal de São Paulo, a sua memória. É ele quem melhor pode contar o valioso trabalho realizado pela FBSP na formação do meio artístico brasileiro, desde a constituição do Museu de Arte Moderna de São Paulo, em 1949.

Se essa Bienal propõe um momento de reflexão sobre o papel da instituição e seu projeto para arte contemporânea, levando em conta uma nova realidade local e internacional, ele requer uma revisão histórica das bienais de São Paulo, seu lugar no quadro das instituições de arte no Brasil, assim como uma discussão aprofundada sobre o modelo em que ela opera. A Biblioteca se constituirá de documentos, livros e depoimentos (de artistas, críticos, intelectuais e ex-curadores) selecionados e organizados com a colaboração de artistas convidados, e propostos ao público como possíveis entradas para a história das Bienais de São Paulo, assim como de outras Bienais, e as economias e culturas que elas representam. Será um espaço de pesquisa e reflexão, aberto ao público, e que deverá prover subsídios para o conhecimento e a compreensão da instituição e do modelo cultural que representa.

Assim como os outros componentes da mostra, o mobiliário e equipamentos para esse segmento também será objeto de trabalho encomendado a artistas/designers/arquitetos.

Também estamos trabalhando com artistas que investigam por meio de seus trabalhos os limites entre documento e representação, linguagem e leitura, história e ficção, para, a partir do material existente no arquivo da FBSP, produzirem outras leituras dele em trabalhos e intervenções que serão incorporados posteriormente ao acervo do Arquivo Wanda Svevo.

O ciclo de conferências será organizado a partir de quatro grandes entradas: 1) a Bienal de São Paulo e o meio artístico brasileiro; 2) agentes financeiros oficiais e privados reunindo agências governamentais, ONGs, fundações públicas e privadas, organizações fundamentais nas estratégias e estruturas das Bienais; 3) o modelo e o sistema das Bienais, reunindo diretores e curadores do maior número possível de organizações; 4) uma conferência ou painel, de caráter mais teórico e filosófico, refletindo sobre conceitos e parâmetros envolvidos no projeto curatorial da 28ª Bienal de São Paulo. Os trabalhos desenvolvidos serão registrados em publicações específicas produzindo um documento atualizado sobre o sistema das Bienais, sua economia, desempenho e possibilidades no século XXI.

IV -Publicações, Website

Considerando o modelo proposto para a 28ª Bienal de São Paulo, as publicações são parte integrante do projeto. Porém deve ficar claro que os volumes principais só poderão ser lançados depois do fim exposição, com o encerramento dos programas realizados na Praça e na Biblioteca. Para a abertura, estará disponível o guia da exposição detalhando o programa das conferências e atividades na praça, assim como depoimentos de artistas e curadores.

Também fica claro que dentro desta proposta o website da 28ª Bienal de São Paulo será de importância fundamental na criação de um espaço para a difusão do evento local e internacionalmente, assim como uma maneira dentro da qual um público mais abrangente poderá acompanhar o processo de reflexão e produção, uma ferramenta para contribuição, acessando e trocando idéias com pessoas ao redor do mundo que partilham de um interesse no debate.

Programa Educativo

Um dos principais desafios da 28ª Bienal de São Paulo é o seu programa educativo. Considerando que o tema da Conferência é a própria Bienal e o que será apresentado no 2º andar é um espaço vazio entre dois campos de intensa energia (a Praça – intuição e os sentidos; a Biblioteca – a razão sistematizada), pode-se pensar que esse conjunto permitirá o desenvolvimento de uma série de atividades em torno a experiências do vazio como o território da criatividade. Em outras palavras, o território do vazio é o lugar onde a intuição e a razão encontra solo propício para fazer emergir as potências da invenção na arte. Outro caminho importante será a recuperação das memórias das Bienais de São Paulo para o público. Serão desenvolvidas uma série de atividades que mostrem as contribuições dessas mostras para a formação do meio artístico brasileiro e para a história da arte.


São Paulo, Abril de 2008.

Ivo Mesquita, Curador Chefe
Ana Paula Cohen, Curadora



LINK
www.bienalsaopaulo.globo.com