segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Entrevista-Nicolas Bourriaud



Ninguém precisa saber quem ele é ou das ideías que defende, muito menos os artistas que estão no seu casting para fazer, entender ou relacionar-se com a arte de alguma maneira.Mas Nicolas Bourriaud é um dos curadores mais influentes na europa e américa do norte.
Suas idéias e curadorias viram a linha de trabalho de muitos artistas e curadores por conta de seu prestígio e das instituições que ele coordena ou é parceiro direto.
Para se ter uma referência de uma destas, em seu país de origem, ele é o cabeça do "palais de tokyo" um centro de arte contemporânea localizado na capital francesa.
Dia desses li uma entrevista com ele no artecapital.net e achei interessante publicar-la aqui tb.
Aproveito e tb envio um link de um programa que eu gosto muito, art safari, que aborda o conceito do Nicolas sobre a arte relacional.
aqui ó!
http://www.ubu.com/film/relational.html

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Nicolas Bourriaud (n. 1965) é um dos filhos pródigos da arte contemporânea francesa. É simultaneamente curador, ensaísta, crítico de arte e globe-trotter. A sua carreira como curador adquiriu visibilidade a partir de algumas exposições internacionais em que participou, tais como: “Aperto 93” (Bienal de Veneza, sob curadoria geral de Achille Bonito Oliva), “Traffic” (CAPC, Bordéus, 1996), “Experience de la Durée” (Bienal de Lyon, 2005), e Bienal de Moscovo (2005 e 2007). Teorizou as novas práticas artísticas que eclodiram no final dos anos 90 e inícios do século XXI, com artistas como Philippe Parreno, Dominique Gonzalez-Foerster ou Rirkrit Tiravanija. Publicou diversos livros assumindo a autoria de novas teorias sobre a arte, como a da estética relacional. Aumentou a sua notoriedade quando, entre 2001 e 2004, protege a especificidade do Palais de Tokyo, lugar dedicado à criação contemporânea da cena cultural parisiense: que co-dirigiu com Jérôme Sans. Recentemente, em 2008, comissariou “Estratos” em Murcia, Espanha, e “La Consistance du Visible” na Fundação Ricard, em Paris. Em 2006 foi nomeado curador da Trienal da Tate, que decorre de 3 de Fevereiro a 26 de Abril de 2009. Foi sobre o conceito camaleónico de modernidade que trocámos aqui algumas ideias.

Por Sílvia Guerra
Novembro-Dezembro, 2009



P: Para a Trienal da Tate, em Londres, propôs um novo conceito, que é o de “Altermodern”. Esta outra modernidade é a chave de interpretação desta grande exposição colectiva. Gostaria de saber se com este novo neologismo inventado por si, procura medir o nosso afastamento em relação ao movimento histórico da modernidade?

R: O “Altermodern” significa um duplo afastamento, seja em relação ao “pós-moderno”, seja em relação ao período moderno do século XX. Hoje a palavra “moderno” evoca duas coisas: o período histórico delimitado pela arte moderna, e a modernização do mundo, sob a égide do “progresso”. Ora aquilo a que chamamos moderno é um estado de espírito recorrente na história, que assume diferentes formas segundo as várias épocas.


P: Como se liga o “altermodern” à contemporaneidade? É um seu sinónimo ou é uma maneira de repensar a noção de contemporâneo?

R: O “Altermodern” é, para mim, a forma emergente e contemporânea da modernidade, ou seja, a de uma modernidade que corresponde aos desafios do século XXI, e especificamente ao momento histórico que vivemos e no qual nos inscrevemos, para o bem e para o mal: a globalização. Ser moderno, no século XX, correspondia a pensar de acordo com formas ocidentais; hoje, a nova modernidade produz-se segundo uma negociação planetária. Doravante, na sua reflexão plástica, os artistas tomarão como ponto de partida uma visão globalizada da cultura, e já não as conhecidas “tradições”: servem-se destas para se conectarem com o universal, para experimentarem novas vias. Por exemplo, Pascale Marthine Tayou utiliza os padrões culturais africanos para questionar os valores a partir dos quais os vemos a partir de Nova Iorque ou Berlim.


P: Como poderíamos definir o significado dessa noção para re-interpretar outras práticas culturais?

R: “Alter” significa outro, mas o prefixo evoca igualmente a multitude. Em política, a alter-globalização é uma constelação de lutas locais que visam combater a homogeneidade mundial. No domínio cultural, “alter-moderno” significa algo semelhante, é como um arquipélago de singularidades conectadas umas às outras.


P: A Documenta 12 de Kassel foi também um momento no qual se perguntou se a modernidade não seria a nossa Antiguidade. Por seu lado, o antropólogo Bruno Latour defende a ideia de que nunca fomos modernos. Mas, hoje em dia, poderemos ser algo para além de modernos?

R: Infelizmente, sim… O planeta inteiro está a ser percorrido por crispações identitárias, por retornos fundamentalistas, por radicalismos religiosos e políticos, e todos colocam em primeiro plano as raízes das assim chamadas “ identidades culturais”, que são um dogma. Deste facto, nasce hoje a necessidade e importância de fazer a recomposição de uma modernidade, cujo gesto primordial é o do desenraizamento do solo, do exôdo das tradições identitárias e das comunidades constituídas. No que diz respeito à Documenta, não podemos esquecer que o regresso à Antiguidade foi o sinal durante um longo período de tempo, do aparecimento da modernidade, cujo exemplo mais evidente é o Renascimento italiano. É certo que o modernismo do século XX constitui a nossa Antiguidade – aonde temos de regressar – mas para dar um mais efectivo passo em frente. Hoje irritarmo-nos com este revival modernista que pesa nas grandes exposições mas, na minha opinião, ele é apenas mais um fetichismo.


P: Entre os artistas que convidou para esta Trienal, estão alguns que trabalham sobre dois vectores que você considera irreductíveis do conceito de “Altermodern”: o tempo e a história, como um novo continente. Poderia apresentar-nos o trabalho de alguns desses artistas?

R: Os artistas procedem hoje por encadeamento de objectos visuais. Esta é a sua metodologia, e fazem-no através de obras que constituem arrêts sur l’ image” de um enunciado em perpétuo crescimento. Para fazer referência à obra de um artista emblemático, como é Seth Price, posso dizer que as suas formas permanecem em estado de cópia, mas sem adquirirem um estatuto como transitórias. As imagens são instáveis, estão à espera, entre duas traduções, de serem perpetuamente transcodificadas. Price desmotiva uma vã necessidade de classificar as suas obras, de lhes atribuir um lugar preciso na cadeia de produção e de tratamento da imagem. Os mesmos motivos são retomados com mais ou menos variantes em obras distintas. Outros como Nathaniel Melliors ou Spartacus Chetwynd, exploram a história como se ela fosse um espaço. Charles Avery, pelo contrário, cria a ficção de um universo inteiro que aboliu toda a noção de contemporaneidade. Todos eles fazem um mix de épocas e de estilos, tal como “semionautas” que produzem percursos através de diferentes épocas e estilos e a partir dos signos que pertencem a espaços-tempos afastados uns dos outros.


P: Numa entrevista disse que quando tinha perguntas fazia exposições, e que quando tinha respostas, escrevia livros… Que conclusões se pode tirar dessa metodologia? Como vê a articulação do seu trabalho com o momento histórico (ele mesmo tão volátil)?

R: O meu trabalho consiste em tentar fazer aparecer figuras no caos da produção contemporânea, ou seja, inventar chaves de leitura, utensílios teóricos que permitam ver a arte de hoje segundo um certo prisma. Esse trabalho efectua-se de forma discursiva num livro e transforma-se quando se trata de uma exposição: detesto a ideia de alinhar obras, uma após outra num museu, de forma a que se conformem ao que esperamos delas. Sabendo que toda a (boa) obra de arte é semionautas, obviamente que resiste à classificação sob a égide de uma teoria. Uma exposição é então um espaço-tempo de diálogo, um filme no qual me contento em fazer a montagem e para o qual escrevo as legendas.


P: Conhecemos as suas útimas obras, Esthétique relationnelle e Postproduction, que permitiram teorizar a arte após a morte da história da arte dos anos 90. Com o seu proximo livro Radicant, em que analisa a nova geração, o que nos é dado a conhecer?

R: A Trienal “Altermodern” e o ensaio Radicant, completam-se e respondem um ao outro, já que foram concebidos em conjunto. Em “Altermodern”, onde procuro descrever as suas condições de emergência, existe a articulação em torno de noções como a de precariedade (a arte que chama a atenção para a fragilidade de todas as construções sociais e mentais), de errância (como porta de saída do pós-moderno), de forma-viagem (na qual a obra se apresenta como percurso, e não mais como uma superfície ou volume), ou de implicação de temporalidades (a tessitura de espaços-tempo heterogéneos na obra).


P: Poderia explicar-nos como trabalha com os artistas e criadores que acompanha? Qual é o seu modus operandi enquanto curador?

R: Cada exposição tem a sua própria história. Esta foi concebida no quadro de uma série de discussões com actores do mundo da arte: por exemplo, a série de quatro “Prólogos” que precederam a Trienal, e que implicaram a participação de outros teóricos, de artistas e de críticos de arte. Depois, poderia dizer que, de uma forma mais geral, esta exposição foi concebida como se fosse um debate alargado.


P: E qual é o papel do crítico de arte nos nossos dias?

R: Hoje, mais do que nunca, é indispensável designar as coisas e fazer a sua análise. Perante um mundo como o actual, que progressivamente se reduz mais às dimensões de um supermercado de imagens e de signos, é urgente reafirmar o valor do comentário e da selecção. Isto poderia resumir-se deste modo: eu, um indivíduo entre outros, vou mostrar este objecto, que me parece mais interessante do que outros; e vou-lhes explicar porquê, e a partir de que valores emito este julgamento. Será que é necessário relembrarmo-nos de um velho adágio talmúdico, segundo o qual um texto (e por extensão, qualquer outro objecto) não adquire o seu real valor senão a partir do momento em que foi sujeito a um comentário?


P: Em Portugal, onde fazem falta mais revistas em papel consagradas à arte contemporânea, apropriámo-nos do formato digital para existir. A Artecapital existe desde há três anos… Poderemos dizer que fazemos parte de uma “alter-modernidade”? As diferentes velocidades de crescimento nos países europeus são uma das razões para que nos continuemos a sentir tão “far away so close”…

R: A verdadeira virtude do pós-modernismo foi a de equalizar filosoficamente, e mesmo juridicamente, as diferentes versões dos espaços-tempo que compõe o nosso mundo, e do qual certas versões eram precedentemente consideradas pelo mundo modernista como simplesmente “em atraso”. A “alter-modernidade”, é a coordenação estrutural produtiva das diferentes velocidades, com a finalidade de criar novas visões do mundo, uma modernidade que seja finalmente planetária e não simplesmente pseudo-Ocidental, que seja um arquipélago e deixe de ser “continental”, no sentido em que deixe de ambicionar a totalidade.


P: José Saramago escreveu, em 2008, um livro intitulado A Viagem do Elefante, no qual o seu protagonista paquiderme, proveniente da Índia, atravessa a Europa do século XVI. Nessa viagem “moderna” a palavra de ordem é: chegamos sempre ao sítio onde nos esperam. O que pensa desta visão da viagem? Ainda tem sentido?

R: A errância é, antes de mais, encontrar o que não se procura. É este o verdadeiro luxo intelectual num mundo onde se fabricam dóceis consumidores a partir de perfis-tipo.



LINK
ALTERMODERN – Tate Triennial 2009

Tate Britain, 4 Fevereiro – 26 Abril 2009
www.tate.org.uk/britain/exhibitions/altermodern/


BIBLIOGRAFIA
NICOLAS BOURRIAUD

Radicant
_Nova Iorque, Sternberg Press & Berlin (Merve Verlag), 2009.

Postproduction
_Dijon, Les presses du réel, 2004.
_Nova Iorque, Lukas & Sternberg, 2001.

Formes de vie. L’ art moderne et l’ invention de soi, _Paris, Denoël, 1999.

Esthétique relationnelle
_Dijon, Les presses du réel, 1998.

domingo, 15 de fevereiro de 2009

COMISSÃO DE FRENTE-RECIFE



Com o intuito de abrir o calendário da exibição de arte contemporânea no Recife e, literalmente, colocar um bloco na rua surge a primeira edição da exposição “Comissão de Frente”.A exposição, organizada por dois jovens artistas da cidade Aslan Cabral e Bruno Faria, integra-se ao período pré-carnavalesco e utiliza elementos da folia de momo por conta da força, singularidade e representatividade do carnaval na cultura da cidade do Recife que é um dos roteiros mais desejados por turistas do Brasil e do mundo neste período.
Integrando o calendário da arte atual da cidade ao carnaval esta exposição sugere o reconhecimento de todas as co-relações que a nossa criatividade e anarquia, entre várias caracteristicas da arte contemporânea, tem com manifestações populares como o carnaval.
Aslan Cabral, Bruno faria, Bruna Rafaela, Cristiano Lenhardt, Derlon Almeida, Gugu Ferrer, Jonathas Andrade, Marcelo Solá, Maurício Castro, Mozart Santos e Yuri Firmeza são os artistas convidados para compor essa mostra que vai do dia 17 ao 19 de fevereiro (semana pré carnavalesca) finalizando a programação com a saída do Bloco “E tudo artista”.

Cronograma
Terça-feira dia 17
abertura as 10:00 da manhã
e às 19 hrs pocket show da banda Saltos Ornamentais(babaaado!)
e djs convidados
Quarta-feira dia 18
Entrega das camisas do bloco "É Tudo Artista"
e Bazar da Monga a partir das 17:00hs(imperdível)
*também vai rolar um som!
Quinta-feira dia 19
Encerramento com a saída do bloco "É Tudo Artista", concentração a partir das 17:30
Muito frevo, axé e djs convidados numa verdadeira performance coletiva!!!
PARTICIPE!!!

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Piscinão da Benvinda de Carvalho-Belo Horizonte


Uma invasão de artistas cariocas a praia mineira...a piscina.

Essa invasão ocorrerá na Galeria Murilo Castro comemorando o verão, época tão fértil e adorada pelo povo litorâneo. E se dará da seguinte forma, um ônibus com mais de 40 artistas contemporâneos chegará na galeria no dia da abertura da exposição carregando seus respectivos trabalhos sob o braço. Esses artistas escolherão onde por suas obras de forma bem livre indo logo assim que terminado o trabalho de instalação das obras participar do churrasco à beira de uma piscina plástica instalada na Galeria.

Por que isso?

A Galeria Murilo Castro já possuiu inusitadamente uma piscina em seu interior que mais tarde veio a ser aterrada já que não era de grande valia como espaço expositivo. Uma exposição onde os artistas invadem a galeria e a piscina, só caberia nessa em questão.

Piscinão é uma manifestação típica do carioca de baixa renda, aquele que não tem acesso rápido e direto as grandes e famosas praias cariocas, governos passados inventaram o famoso piscinão para o suburbano. Sendo a arte uma atividade muito ligada às elites e a arte contemporânea ainda mais taxada de hermética e difícil, logo mais distanciada ainda da base da pirâmide social brasileira, resolvemos por em cheque tudo isso fazendo um evento que tenho o frescor a malandragem e a leveza de um churrasco à beira da piscina.

O evento terá a característica descontraída do carioca e do verão mas também estará cercado de obras de artistas já respeitados e outros ainda jovens porém com uma estruturada trajetória.

Acreditamos que o público que venha a visitar a galeria encontrará, alem do evento da abertura, a invasão e toda a operação de colocação das obras de todos os artistas ao mesmo tempo no espaço expositivo, participar de um churrasco e cervejada seguido de um bom batuque de samba e pagode; também uma mostra do que a arte contemporânea carioca vem fazendo.

Essa abertura e esse deslocamento dos artistas vindo de um sítio para outro e nesse último instalando suas obras e eles próprios se apropriando do espaço expositivo como seu próprio lar relaxado, animadamente, divertindo-se mas sempre e com mais força que de costume atuando como agentes da arte.

Os cariocas vão invadir com muito bom humor e arte a Galeria Murilo Castro nesse verão.



Venham todos e tragam os amigos!

Será neste sábado, dia 14 de fevereiro, às 12:00 horas, na Galeria Murilo Castro, Rua Benvinda de Carvalho, 60, Belo Horizonte,
quando o ônibus chegará do Rio com os artistas e o evento terá início.



Relação dos artistas participantes:

Alex Topini Guga Ferraz
Alexandre Sá Gustavo Speridião
Alexandre Vogler Heleno Bernardi
Andrei Muller Isabela Lira
Arjan Joaquim Paiva
Caroline Valansi Jorge Duarte
Celina Portella Júlia Debasse
Cesar Barreto Leo Videla
Chico Fernandes Lia do Rio
Claudia Hersz Luis Sérgio Oliveira
Dani Dacorso Luiza Baldan
Daniel Lannes Marco Antonio Portela
Daniel Murgel Osvaldo Carvalho
Eduardo Filipe Patrícia Gouvea
Felipe Varanda Pedro Paulo Domingues
Fernanda Antoun Pontogor
Fernando de La Roque Ricardo Pimenta
Flávio Vasconcelos Romano
Frederico Dalton Thiago Barros
Gabriela Maciel Valeria Costa Pinto
Geraldo MarcoliniVicente de Mello
Greice Rosa Walton Hoffmann


Curadoria, organização e texto de Marco Antônio Portela

Galeria Murilo Castro - Rua Benvinda de Carvalho, 60 - Belo Horizonte -MG
tel: +5531-32870110 www.murilocastro.com.br