sexta-feira, 7 de dezembro de 2007

Arte e Mercado


Campos de Trigo
Vincent van Gogh, 1890
Preço estimado: de US$ 28 milhões a US$ 35 milhões
Não vendido no leilão da Sotheby’s




Tela de Van Gogh encalha em leilão

O economista canadense John Kenneth Galbraith definiu certa vez o estouro de uma bolha econômica como "tragédia em que nada se perde, a não ser dinheiro". A idéia é mais verdadeira quando se trata do comércio de artes, que não tem impacto sobre a vida dos comuns mortais. Mas o colapso de um mercado é sempre um espetáculo momentoso, e por isso o resultado de um leilão da Sotheby’s causou muito frisson. O leilão aconteceu no dia 7 e foi extraordinário porque um quadro de Vincent van Gogh não alcançou o preço mínimo de venda. Van Gogh pintou o sétimo quadro mais caro do mundo, O Retrato do Dr. Gachet, vendido em 1990 por 82,5 milhões de dólares. Agora, ninguém se dispôs a pagar 28 milhões de dólares por Campos de Trigo, da fase final do holandês. Pior ainda: das 76 obras impressionistas e modernas postas à venda, várias não atingiram preço mínimo e outras dezenove ficaram encalhadas, todas elas assinadas por mestres como Picasso, Renoir, Gauguin, Miró e Monet. Um evento que esperava arrecadar 355 milhões de dólares estacionou em 270 milhões. Parecia o sinal de que um mercado aquecido estava prestes a desmoronar – algo que se vaticina há tempos.

Na semana passada, contudo, novos leilões realizados pela própria Sotheby’s e por sua concorrente Christie’s mostraram que ainda não foi desta vez que a "bolha das artes" arrebentou. O que acontece é a entrada em cena de um novo grupo de colecionadores, dotados de um gosto próprio e talvez um pouco menos impulsivos na hora de fechar negócios. Desde os anos 80, algumas levas de compradores de arte debutaram no mercado. Primeiro vieram os milionários japoneses, depois os oligarcas russos e alguns misteriosos magnatas de Hong Kong, Cingapura ou Dubai. Os novatos de agora são executivos de fundos de investimento, que estudam cada lance tendo em vista o lucro – mas nem por isso deixam de ter suas preferências artísticas.

Philipe Ségalot, um ex-diretor da Christie’s, descreve desta forma os recém-chegados num artigo da revista The New Yorker: "Esses jovens nasceram numa sociedade definida pelos meios de comunicação. Eles se identificam mais com a arte contemporânea do que com a arte moderna e são muito competitivos. Querem superar os melhores museus, e é só colecionando arte contemporânea que você pode fazer isso". Ora, nos leilões da semana passada os pintores contemporâneos alcançaram cotações expressivas (e inéditas para muitos deles). Na Sotheby’s, duas obras do inglês Francis Bacon foram vendidas por 33 milhões e 46 milhões de dólares. Na Christie’s, uma tela de Mark Rothko também chegou a 33 milhões de dólares. Do Rio de Janeiro, o marchand Jean Boghici observa o movimento. "Os colecionadores querem algo produzido em sua época", diz ele. Mas, especialista em modernistas, Boghici também sentencia: "Quem não comprou aquele Van Gogh bobeou. A obra é boa, e o preço estava ótimo".

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