sexta-feira, 14 de dezembro de 2007

Aslan Cabral-"A Busca de Novas Bases para uma Arte Atual"


Aslan Cabral "Sem título"2007 da série Arte Atual.



Por Ana Luísa Lima sobre Sem título | Especial para a Mostra Catálogo 2ptos, de Aslan Cabral, para o Projeto Jovem Crítica da Mostra Catálogo 2ptos*

Original: http://www.doispontos.art.br/novo_interno.php?cod=425

"Quanto à liberdade subjetiva, não é difícil imaginar que algumas pessoas possam gozar da liberdade e outras não, ou que algumas possam ser mais livres do que outras. A autonomia, ao contrário, não é um conceito distributivo e não pode ser alcançada individualmente. Nesse sentido enfático, uma pessoa só pode ser livre se todas as demais o forem igualmente".
Jürgen Habermas em A Ética da Discussão e a Questão da Verdade

"O lugar da arte tornou-se nele incerto. A autonomia que ela adquiriu, após se ter desembaraçado da função cultual e dos seus duplicados, vivia da idéia de humanidade. Foi abalada à medida que a sociedade se tornava menos humana".
Theodor W. Adorno em Teoria Estética

O problema da arte não está só na arte. Mas numa humanidade cada vez mais diluída, quase aniquilada, em nome da "desconstrução" – muito embora em Derrida a desconstrução seja o meio de reconstrução do caminho, e não da destruição pelo desgaste analítico. Acontece que dissecaram os órgãos da humanidade e nesse ato a alma se perdeu em algum lugar.

Vai ver que Aslan Cabral andou querendo matar a si mesmo -como na série fotográfica Goodbye World, em que simula sua própria morte em várias situações- por algum tempo para ver se encontrava alguma alma, algum sopro, algum vislumbre de vida inédita em cada ressurreição. Porque tudo lhe soa repetitivo - inclusive a arte contemporânea: suas formas, seus jeitos, seus discursos.

Parece-me que a arte há muito perdeu sua potencialidade de fazer pensar, de inspirar, de gerar mudanças. Perdeu seu veio sociológico e político. Desde a Nova Objetividade, a cena artística brasileira insiste em trabalhar apenas para assentar tijolos sobre aquilo já posto. O que se tem quase sempre (tirando as obras que não nos dizem nada) são obras interessantes -isso quando conseguimos informações suficientes para adentrar na suas subjetividades-, mas nada que seja capaz de se comunicar conosco de tal forma que faça latejar em nós coisa nova (ainda que não seja para o outro, coisa absolutamente nova).

A arte há muito esqueceu a inter-subjetividade. Apregoa-se à interatividade que é coisa diferente, ao meu ver, potencialmente inferior. O agir-com proposto pela maioria dos trabalhos (ditos) interativos não vai além da provocação da mera reação aos estímulos pré-estabelecidos pela obra. Nesse sentido, voltamos ao equívoco do behaviorismo, enquanto que deveríamos preferir o construtivismo cognitivo que preconiza a inter-subjetividade.

Ora, a obra não precisa se mascarar de interativa para nos animar, para nos mover do nosso estado de inércia. Toda obra, interativa ou não, deveria ter um potencial para gerar diálogos entre-sujeitos. Obra como propulsora de movimento cultural. O sujeito sai do encontro (com a obra e com o sujeito que criou a obra) com sua rota alterada. A colisão, e mistura dos sujeitos, gera novas trajetórias, que por sua vez gera novas produções culturais (simbólicas ou não).

Uma outra grande questão a ser percebida é que a arte pós-moderna, em busca de uma pretensa autonomia, nos impôs a contemporaneidade de toda a história da arte. Eu bem sei que todo conhecimento construído no passado pode-nos ser contemporâneo quando revisitado -quase sempre de maneira pontual. O que quero dizer é que o pós-modernismo como não negação do passado, coisa que natural e salutarmente acontecia, afirma todas as manifestações passadas como possibilidade atual. Assim, finda-se a idéia de fronteira, de parâmetro. Não há contra o que, ou quem, se rebelar. Fica só essa angústia inerte. Não estamos verdadeiramente livres, mas paradoxalmente engessados nesse limbo de Todas as possibilidades.

A vulnerabilidade, nossa e da arte, está justamente nessa (falsa) idéia de possibilidade infinita. Porque quando passamos para a verdade prática, temos uma espécie de regra, arbitrada por alguns poucos (sistema/mercado de arte), do que deve ser arte. No fim, vemos que nada disso é de fato possível: nem a pluralidade igualitária (no sentido de todos os artistas e suas respectivas linguagens terem direito de usarem igualmente os mesmos espaços); nem a possibilidade infinita em relação a suportes e mídias. Ora, se existe arbitrariamente uma espécie de norma do que deve ou não ser usado numa obra de arte - em determinado espaço e tempo -, a idéia de Todas as possibilidades é mera utopia.

Vivemos a Era do arbitrário, da subjetividade. Todo mundo se diz livre para fazer e dizer o que bem quiser, mas o que se tem de fato é uma liberdade prática que só existe para uns poucos – os árbitros. Para os demais, resta dançar conforme a música pré-estabelecida - ou não dançar fingindo-se surdo. O grande equívoco da arbitrariedade promovida pela subjetividade é que só uns poucos detêm os códigos certos para participar e desfrutar de uma determinada produção cultural-simbólica. E essa ditadura da subjetividade cultiva as repetições de falas (obras). Porque repetir, nesse sistema, é ter acesso para figurar entre os "produtores culturais".

Ciente dessa falsa idéia de liberdade e de possibilidade Aslan Cabral deixa transparecer neste seu novo trabalho a figura do artista como operador de mudança, e propõe a destruição desses edifícios ideológicos arbitrariamente construídos. Para ele é necessário destruir todas essas falácias e começar do zero. Por o primeiro tijolo para uma construção em que todos possam ser reconhecidos individualmente e como iguais – autonomia. A idéia de Todas as possibilidades deve ser substituída por umas poucas possibilidades que seja, mas que permita a quem bem queira a liberdade e autonomia de manejá-las. Inclusive, a possibilidade de criar, como artista, seu próprio mundo - desde que seja, também, possível todos os outros mundos correlatos.

Para Aslan, é tão vital tornar real essa possibilidade de autonomia que ele chega a pensar na possibilidade de não continuar insistindo numa produção artística dentro dessa "dinâmica" do sistema atual. E fala sobre um projeto de "construção de olhar" – uma promoção de discussões, a partir de trabalhos de diversos artistas, em salas de aula por várias escolas da cidade. Na verdade, essa construção de olhar é o construtivismo cognitivo através da inter-subjetividade. É tornar possível que qualquer um possa ter os códigos de acesso para as produções cultural-simbólicas – até por que, qualquer um, nesse sentido, é também produtor.

O artista, para esta Mostra Catálogo 2ptos, opta por não fazer uma obra "interativa" seguindo a tendência das obras feitas para espaços midiáticos, tampouco digitalizar obra originariamente feita para outro suporte. Ele cria sua obra-manifesto a partir de signos gráficos reconhecidamente midiáticos, no intuito de fomentar diálogos. O mínimo que dá para fazer, enquanto a humanidade ainda resolve se (re)tornar mais humana e a liberdade-engessada, autonomia.


*Ana Luisa Lima é graduanda em Licenciatura em Artes Plásticas pela Universidade Federal de Pernambuco e membro do grupo Tatuí de Crítica.

Exposição 10 a mil.Criação contemporânea na Escola Sao Paulo


Curadoria:Juliana Monachesi
Ass. de curadoria e produção:Helena Ruschel




Até 29 de fevereiro 2008.Obras de 10 a 1000 reais.
Pinturas, fotografias, moda, vidéos...
Rua Augusta 2239.SP



ARTISTAS: Adda Prieto, Alberto Simon, Alexandre Vogler, Aloysio Pavan, Ana Teixeira, Jardineiro André †eliciano, André eller, Antonio MelloNeto , Arte ao(s) vivo(s), Alexandre Hechcovitch, Beth Moysé³ , Bettina Vaz Guimar㥳, Caetano Dias, Camille Kachani, Carol Seiler, Claudio Cretti, Claudio Matsuno , Denise Agassi , Edith Derdyk , Edson Fragoaz , Eduardo Salvino, Eduardo Ortega , Eduardo Verderame , Fᢩo Tremonte , Felipe Segall, Filipe Berndt Julio, Franz Manata, Guil Macedo , Gloria Coelho , Guto Arouca, Giselle Beiguelman , Helena Kavaliunas, Helen Faganello , Hugo Curti , Jo㯠ͮdio , Jofer, José ‚ernnJulio Kohl , Julie Cherman , Jurandy Valen硬 Kika Nicolela , Lea Van Steen, Lorenzo Merlino, Lynn Carone, Lucas Bambozzi, Malu Pessoa , Marcela Tiboni , Marcelo Amorim, Maria Eugꮩa , Marcos Vilas Boas , Martha Lacerda , Mirla Fernandes , Monica Tinoco ,Marcus Bastos, Naiah Mendon硼/SPAN>, Natasha Barricelli , Oscar Cesarotto, Patricia Osses, Paulo Climachauska, Rachel Rosalen, Rafael Campos Rocha , Raquel Kogan , Regina Johas, Regina Silveira , Renata Matarazzo, Ricardo Ramalho, Ricardo Van Steen, Rodrigo Andrade , Roger Bassetto, Rog鲩o Pinto , Rossana Di Munno , Rui Amaral, Renato De Cara, Roberto Leme , Sonia Guggisberg, Tatiana Ferraz , Tadeu Jungle , Teresa Viana ,Tom Lisboa , Tò¬©¯ Tavares , e Vera Barros.

Cês viram?Van gohg nao está na lista.Então, nenhum destes trabalhos precisa ficar encalhado.
rs

Louise Bourgeois-Tate Modern.


Spider.2001-Guggenheim Bilbao

Fragile Goddess.2002





“I have no ego. I am my work.” A obra de Louise Bourgeois tem uma inequívoca dimensão autobiográfica. O confronto com o aspecto obsessivo do seu corpo de trabalho pode emocionar e violentar a audiência mais informada. A militância interior em contraponto ao mundo exterior assume um carácter profundamente universal, respondendo, a partir das reminiscências traumáticas da sua infância, às emoções dicotómicas do quotidiano relacional com as quais sistematicamente negociamos. Tornando visceralmente explícitos o medo, a fractura, o amor, o ódio, a ternura, o ciúme, a culpa, a protecção, a agressão, a sedução, a traição, a força ou a vulnerabilidade, Louise Bourgeois manifesta, do particular para o geral, durante os seus épicos setenta anos de produção artística, uma consciência profundamente humana (trágica e brutalmente cruel) da existência.


A Tate Modern apresenta cerca de duzentos trabalhos referentes à totalidade do percurso de Louise Bourgeois. Nascida em Paris em 1911, inicia o seu trabalho artístico em 1938, no contexto da Segunda Guerra Mundial, mas a sua primeira exposição individual data de 1945 em Nova Iorque, cidade onde se fixa em permanência com a família entretanto estruturada (três filhos com o Historiador de Arte Robert Goldwater). Em 1966 posiciona-se definitivamente fora do determinismo modernista dos movimentos artísticos e participa da exposição “Eccentric Abstraction” de Lucy Lippard, ao lado de Bruce Nauman ou Eve Hesse, nos anos áureos do Minimalismo hard-edge. O MoMA foi o lugar da sua consagração em 1982, data histórica em que o museu realiza a primeira retrospectiva dedicada a uma mulher artista. Na abertura da Tate Modern (2000), a artista ocupa o espaço experimental Turbine Hall com a instalação “I Do, I Undo, I Redo”, cujo elemento protagonista era a monumental “Mamam” que hoje surpreende e desafia no exterior do mesmo edifício.


A retrospectiva compreende, para além da exposição, o exercício de texto publicado em catálogo. Compreende um glossário (A-Z), editado por Paulo Herkenhoff, com entradas que variam entre o comentário da artista (cujas fontes são entrevistas, diários ou anotações); o pequeno comentário especulativo e o ensaio académico (textos de Robert Storr, Rosalind Krauss, Lucy Lippard, Marina Warner, Bernard Marcadé, entre outros).


A exposição organiza-se em corpos de trabalho e épocas demarcadas de produção. Os suportes, materiais e formas são claramente distintos e diversos, oscilando em permanência entre a figuração e a abstracção. As pinturas, esculturas (de pequeno formato ou escala monumental), desenhos, instalações, maquetas e objectos traduzem uma iconografia híbrida, muitas vezes no limiar de um imaginário surrealista. Colocando as experiências da identidade, da ansiedade, da histeria, da agressão, da claustrofobia, do controlo, da depressão, da destruição, da tensão, da sexualidade, do perigo e do pânico, na génese e ao serviço do pensamento plástico, ganhou um lugar de destaque (objecto de homenagens variadas) nos desenvolvimentos do campo da teoria psicanalítica feminista.


É a mulher, ela própria, o fundamento da gramática discernível na primeira sala de exposição. “Femme Maison” é uma série de pinturas figurativas e metafóricas que reflectem sobre identidade e condição de género dentro da complexidade modernista e vertical da cidade em explosão. A disfuncionalidade da arquitectura, dita doméstica, converte-se no próprio corpo da mulher em clausura, a mesma mulher menina para quem a casa familiar da infância provincial, miniaturizada em mármore à escala de uma boneca, significava a guilhotina pendente em “Cell (Choisy)”.


Tornadas arquitecturas totémicas, as esculturas “Personages” das décadas de 40 e 50, celebram a abstracção antropomórfica que a linguagem anterior não contém. Com total autonomia inicial, começam progressivamente a integrar ambientes cada vez mais complexos, em diálogo umas com as outras, num histórico contributo para a genealogia da instalação.


É também no espaço e do espaço que brotam as esculturas em gesso e látex do período seguinte. Viscerais, primitivos, orgânicos e disformes, os corpos em metamorfose parecem libertar-se, fluidos, a partir de fissuras e orifícios subterrâneos. O carácter carnal, físico, explícito e ameaçador destes trabalhos tem o seu expoente máximo em “The destruction of the father” (1974), instalação celebratória da fantasia infantil omnipresente de devorar e consumir o pai infiel num refeição-ritual canibalístico-familiar. Mais referenciais e controladas, as esculturas de mármore reforçam o carácter sexual das anteriores. Falos, vulvas, torsos hermafroditas, reconfiguram uma linguagem escultórica híbrida materialmente classicizante.


As celas e os quartos são o apogeu narrativo do pensamento plástico de Bourgeois. A mudança de atelier possibilita-lhe passar a projectar em grande escala e conciliar a compulsão coleccionista que caracteriza as instalações-cenários-precários, jaulas espiraladas da discórdia familiar. Os interiores, não acessíveis, permitem-se entrever através de pequenas aberturas-convite à participação voyerística do espectador. Assombrosos e claustrofóbicos, encontram-se repletos de intrigantes objectos, encontrados ou fabricados, metafóricos e simbólicos, que projectam nas condições da sua integração cirúrgica e neurótica o sofrimento inerente às relações de intimidade.


Os trabalhos mais recentes confirmam a recorrência do recurso à memória de infância. A crescente importância do tecido, matéria-prima da empresa familiar de restauro de tapeçaria, do cozer, do costurar e do bordar, traduz uma aparente domesticação dos sentimentos não confirmada no patchwork exercido, a ponto cru, sobre cabeças mutiladas, reconstruídas e expostas em vitrines. A escala e o material destes trabalhos aproxima-se da dos objectos organizados na última sala, cujo conteúdo é documental e transversal ao corpo septuagenário de trabalho. Gabinete de curiosidades ou câmara de terror, testemunha o quotidiano artístico (que é vivencial e vice-versa) em inúmeras esculturas experimentais e objectos fetiche que empurram para o início: o pai comido à mesa em miolo de pão.

sexta-feira, 7 de dezembro de 2007

Arte e Mercado


Campos de Trigo
Vincent van Gogh, 1890
Preço estimado: de US$ 28 milhões a US$ 35 milhões
Não vendido no leilão da Sotheby’s




Tela de Van Gogh encalha em leilão

O economista canadense John Kenneth Galbraith definiu certa vez o estouro de uma bolha econômica como "tragédia em que nada se perde, a não ser dinheiro". A idéia é mais verdadeira quando se trata do comércio de artes, que não tem impacto sobre a vida dos comuns mortais. Mas o colapso de um mercado é sempre um espetáculo momentoso, e por isso o resultado de um leilão da Sotheby’s causou muito frisson. O leilão aconteceu no dia 7 e foi extraordinário porque um quadro de Vincent van Gogh não alcançou o preço mínimo de venda. Van Gogh pintou o sétimo quadro mais caro do mundo, O Retrato do Dr. Gachet, vendido em 1990 por 82,5 milhões de dólares. Agora, ninguém se dispôs a pagar 28 milhões de dólares por Campos de Trigo, da fase final do holandês. Pior ainda: das 76 obras impressionistas e modernas postas à venda, várias não atingiram preço mínimo e outras dezenove ficaram encalhadas, todas elas assinadas por mestres como Picasso, Renoir, Gauguin, Miró e Monet. Um evento que esperava arrecadar 355 milhões de dólares estacionou em 270 milhões. Parecia o sinal de que um mercado aquecido estava prestes a desmoronar – algo que se vaticina há tempos.

Na semana passada, contudo, novos leilões realizados pela própria Sotheby’s e por sua concorrente Christie’s mostraram que ainda não foi desta vez que a "bolha das artes" arrebentou. O que acontece é a entrada em cena de um novo grupo de colecionadores, dotados de um gosto próprio e talvez um pouco menos impulsivos na hora de fechar negócios. Desde os anos 80, algumas levas de compradores de arte debutaram no mercado. Primeiro vieram os milionários japoneses, depois os oligarcas russos e alguns misteriosos magnatas de Hong Kong, Cingapura ou Dubai. Os novatos de agora são executivos de fundos de investimento, que estudam cada lance tendo em vista o lucro – mas nem por isso deixam de ter suas preferências artísticas.

Philipe Ségalot, um ex-diretor da Christie’s, descreve desta forma os recém-chegados num artigo da revista The New Yorker: "Esses jovens nasceram numa sociedade definida pelos meios de comunicação. Eles se identificam mais com a arte contemporânea do que com a arte moderna e são muito competitivos. Querem superar os melhores museus, e é só colecionando arte contemporânea que você pode fazer isso". Ora, nos leilões da semana passada os pintores contemporâneos alcançaram cotações expressivas (e inéditas para muitos deles). Na Sotheby’s, duas obras do inglês Francis Bacon foram vendidas por 33 milhões e 46 milhões de dólares. Na Christie’s, uma tela de Mark Rothko também chegou a 33 milhões de dólares. Do Rio de Janeiro, o marchand Jean Boghici observa o movimento. "Os colecionadores querem algo produzido em sua época", diz ele. Mas, especialista em modernistas, Boghici também sentencia: "Quem não comprou aquele Van Gogh bobeou. A obra é boa, e o preço estava ótimo".

quarta-feira, 10 de outubro de 2007

Mulher é presa por beijar quadro


Pintura de Cy Twombly foi marcada pelos lábios de uma mulher na França.
Obra era avaliada em US$ 2,7 milhões e não poderá ser restaurada.


materia da France press/G1.

O beijo de uma francesa que marcou com batom um quadro do pintor americano Cy Twombly constitui uma violação da obra, afirmou nesta terça-feira (24) Eric Mézil, comissário da exposição do artista realizada em Avignon (sudeste da França).

A tela, sem título e de uma brancura imaculada até que ficou marcada pelos lábios da mulher, foi avaliada em dois milhões de euros (US$ 2,7 milhões).

Sam Rindy, de 30 anos e residente na região de Avignon, foi detida na quinta-feira passada depois de beijar a obra e indiciada por danificar uma obra de arte. "Eu achei que o quadro ficou ainda mais bonito depois", alegou a mulher.

"Trata-se de vandalismo, uma violação. Ela fala de amor, mas é preciso que compreenda o que é a propriedade intelectual de um artista", protestou Mézil, para quem há poucas possibilidades de restaurar o quadro.

domingo, 26 de agosto de 2007

ARTE ATUAL-Patrick Van Caeckenbergh




Nascido em 1960 na Bélgica e compatriota de Wim Delvoye (1965), protege a sua liberdade criadora dentro da cerca de um jardim fechado e remete-nos para o imaginário dos livros de fadas e demónios característico da cultura europeia do norte ocidental, particularmente da tradição flamenga. Este artista começou a sua carreira hibernando, literalmente, dentro de uma “Living Box” (1982), espécie de abrigo precário construído a partir de tiras de madeira e cortinas. Viveu dentro deste habitat, simultaneamente sedentário e móvel, entre 1980 e 1984. Este habitáculo que adquiriu o estatuto de obra de arte em 1982 é uma espécie de casa “sobre” as costas como possuem certos animais, como o caracol, a tartaruga as ostras e os mexilhões. O termo que dá título a esta sua primeira retrospectiva em França, “Les bicoques”, pode ser traduzido por conchas ou baiucas.

A Maison Rouge, onde está patente a exposição, foi criada por Antoine de Galbert, e caracteriza-se por uma selecção de mostras bastante personalizada, que concilia retrospectivas de artistas de renome internacional, como Ann Hamilton ( “Phora”, 2005), com artistas do meio parisiense como é Denise Aubertin (“Les livres cuits”, 2006) que estão ausentes da bolsa de valores da arte contemporânea internacional. Existe neste espaço uma programação que privilegia a divulgação de colecções privadas e denota a preferência dada pelo seu fundador à arte bruta e contemporânea na sua expressão primitiva e sexuada.

As quatro exposições deste Verão patentes na Maison Rouge são denominadores comuns desta escolha pessoal: Flavio Favelli concebe uma esplanada para o café da instituição sob a aura dos “Poémes Saturniens” de Paul Verlaine, com mesas e cadeiras lacadas a preto cobertas de borracha preta e com uma iluminação que se faz através de lustres. Felice Varini pinta uma das áreas da Maison Rouge criando uma intervenção cinética que funciona em anamorfose com a perspectiva do espectador, evoluindo com a sua deslocação no espaço. O Pavillon Seroussi foi fruto de um concurso de arquitectura promovido com a finalidade de conceber a casa para o coleccionador privado dos nossos dias, em que participaram 6 agências de arquitectura. E é neste núcleo expositivo dedicado às arquitecturas que se insere Patrick Van Caeckenbergh.

A partir do longo corredor de acesso à principal área expositiva da Fundação avistamos uma cerca de jardim em metal - o portão está aberto e na parede aparecem duas imagens representando o Sagrado Coração de Jesus, com a respectiva coroa de espinhos e a frase incrita “Jardins Clos. Quando se entra no interior do gradeamento vê-se uma série de redomas de vidro, dispostas umas dentro das outras à semelhança das matrioskas russas (“Les oubliettes”). Sinto-me dentro de um cabinet de curiosités, que é afinal uma “Collection de peaux” disposta em dois dos muros da Maison Rouge. São amostras de 5000 variedades de epidermes que, para meu espanto, produzem um misto de prazer, como aquele que sinto ao presenciar o deleite de João César Monteiro ao guardar mais um exemplar na sua colecção de pêlos púbicos femininos (em as “Bodas de Deus”, 1999), a par da amarga lembrança das experiências nazis. Os crâneos de uma série de esqueletos juntam as mãos numa prece desconhecida em “La couronne des dieux suppliants”, os corpos estão cobertos pela saia em veludo de um menino de coro e são os deuses que se ajoelham pelos homens. Esta obra encontra-se ladeada pelas amostras de pele que descobri serem colagens de revistas pornográficas.

Por vezes as criações de Caeckenbergh possuem uma vertente marcadamente primitiva, com influências Dada; apresentam visíveis as marcas de manufactura do seu autor e a inerente sujidade ou imperfeição que resulta da prática de bricolage.

A arte feita à mão. Existe uma dicotomia sempre visível na arte: por um lado, a escolha de certos artistas em encarnar as próprias obras, tocando-as de finitude, libertando ficções individuais. Por outro, os que criam dentro da epopeia tecnológica e digital, num universo em que a perfeição formal é uma exigência. Para estes últimos as ficções de um universo pessoal são apresentadas de uma forma quase totalitária, como um sonho de futuro que todos deveríamos partilhar, como acontece, por exemplo, em “The Creammaster Cycle” de Matthew Barney.

Um paravento (“Le paravent”) em madeira ocupa a área central da sala e esconde uma mesa longa de piquenique que revela, nos pratos deixados vazios, alguns restos da receita “velouté du potager au homard fin” (sopa de legumes com lagostins) de Patrick Van Caeckenbergh. Os copos vazios e as flores permanecerão até à proxima refeição que será partilhada com o artista que convida o seu público a comer e a conviver dentro do espaço expositivo. A próxima será no dia 13 de Setembro, às 19 horas.

Uma porta iluminada de 20 centímetros abre-se por detrás do paravento. É a porta da casa do rato (“Le trou de souris”). Se espreitarmos não vemos o seu habitante mas somos remetidos, uma vez mais, para as histórias dos Irmãos Grimm.

Na parte final do percurso surge uma série de vitrines onde 6 maquetes aludem às diferentes fases do trabalho do artista. Contêm os seus principais projectos, incluindo o da concha-habitat-móvel (“La coquille”): escultura móvel semelhante a uma alcofa para adultos. É mais uma interpretação do Nautilus, a par das pequenas reproduções que se encontravam nos cabinets de curiosités renascentistas. Neste caso com o tamanho necessário para transportar o próprio artista viajante. São variações de casas, de anatomias arquitectónicas e humanas que podemos apreciar nesta mostra pessoal.

O percurso no interior deste mundo-jardim termina com um longo andor suspenso, azul celeste, semelhante aos que encontramos em inúmeras procissões religiosas. O visitante caminha por debaixo deste céu em cetim e tem a ligeira sensação que vai começar a levitar, e talvez passar para um outro mundo.

Patrick Van Caeckenberg revisita a tradição mística das peregrinações e a tradição pictural bíblica flamenga criando com as suas obras uma enciclopédia pessoal. Dentro deste jardim privado promove encontros sensoriais e mesmo gastronómicos (uma das uniões nem sempre assumida na arte), com o seu público.

Existirá nos anos 2000 uma escola flamenga feita de nomes como Jan Fabre (1958), Delvoye ou Caeckenberg, todos nascido na década de 60? Optam muitas vezes, com as diferenças que os separam, por materiais e técnicas tradicionais como o empalhamento de animais presente em “Les messagers de la mort” de Jan Fabre ou o “Rex” de Wim Delvoye. No entanto só Caeckenberg abre as portas dos seu jardim para levar consigo o visitante a jantar. Estamos longe da “white box” da Galerie DanielTemplon. Encontramo-nos na casa vermelha de Paris.


Sílvia Guerra

quinta-feira, 2 de agosto de 2007

A China e a arte contemporanea-Arte Atual


As primeiras manifestações de modernismo na China aparecem em 1919 com o famoso Movimento de 4 de maio, em que os intelectuais e os artistas pregam uma ruptura com a tradição e buscam abraçar o mundo moderno tirando exemplo do ocidente

Este movimento contribui para a Revolução de 1949 e nessa época os artistas viram-se em direção à pintura a óleo (youhua) como alternativa à pintura tradicional à tinta e pincel (guohua).
Os reformistas propõem tomar como exemplo o realismo ocidental e enviar os artistas para o exterior para que estudem as técnicas artísticas modernas e os sistemas de educação, de maneira a estabelecer academias próprias para difundir os novos métodos.

Em Paris, Lin Fengmian (1900 - 1991) adere ao Fauvismo, Liu Haisu (1896-1994) ao Impressionismo, enquanto Xu Beihong(1895-1952) permanece fiel ao Realismo do século XIX. É ele quem, de volta à China, convence as autoridades a estabelecer em Academias este modelo de pintura do real.É desta época que data a supremacia do Realismo nas Academias chinesas, supremacia que dura até hoje.

Depois da Revolução de 1949 e da proclamação da República Popular da China, um modelo rígido passa a ser aplicado aos artistas. Fundado sobre um texto redigido por Mao Tsé Tung em 1942, a arte é declarada estar ao serviço do povo e ao serviço da revolução.


A partir disso, a arte pela arte é banida e os artistas - considerados exército cultural - desenvolvem um realismo revolucionário utopista colocando o proletariado e o campesinato como heróis.
O enquadramento e a censura são rígidos no interior das Academias e das associações de artistas, e encontram seu apogeu na Revolução Cultural (1966-1976) em que os artistas, assim como os intelectuais, são os alvos.
A morte de Mao Tsé Tung traz de volta, com a política da porta aberta de Deng Xia Ping, uma relativa liberdade de expressão para os artistas. Outros movimentos surgem e testemunham a chegada de uma verdadeira arte contemporânea chinesa.


A relação com o poder chinês continua difícil, os artistas não podem atacar o poder diretamente, mas agem através de ironia, alusões e zombaria. Nessa época, muitas exposições são censuradas e abortadas. Todavia, a situação das autoridades chinesas é hoje em dia mais tolerante e liberal.


Em 1993 ocorre a internacionalização do movimento. É nesse ano que acontece a Bienal de Veneza que apresenta 13 artistas chineses. Nos anos seguintes, vários museus recebem exposições desta vanguarda chinesa.
Em 1999, 25% dos artistas presentes na Bienal de Veneza são chineses. Cai GuoQiang é quem recebe o prêmio da Bienal com sua escultura-instalação "The rent collection courtyard". Esta consagração se torna causa de uma polêmica complexa no meio da arte contemporânea na China. Esta polêmica revela as tensões entre a arte experimental e a arte acadêmica na China, entre intelectuais chineses e críticos ocidentais.


A Bienal de Xangai de 2000, com 2 curadores chineses e 2 curadores internacionais (Hou Hanru e Shimizu Toshio), consagra a abertura da China em matéria de arte contemporânea. A exposição "off bienal" e a famosa "Fuck-off" organizada pelo artista Ai Wei Wei, são bastante radicais e trazem experimentos de artistas a partir de fetos e de restos humanos. Na época, mesmo contra todas as expectativas, estas exposições não foram fechadas pelas autoridades.

Mais info:
http://caffespresso.blogspot.com/2007/05/o-tradicional-encontra-o-moderno-na.html

Alguns Artistas Contemporâneos:



Qiu Zhi Jie
Rong Rong
Feng Mengbo
Wang Qingsong
He An
Wang Guangyi
Chen Wembo

Cartier Foundation-Rock and Roll


«O rock’n’roll é uma música de massa, para o grande público. É um ritmo que se desenvolve depois da Segunda Guerra, quando os Estados Unidos começam a ficar ricos e aparece a indústria do disco. É ligado aos grandes ídolos e principalmente, do ponto de vista musical, a uma simplificação harmônica.»
Fabiano Ribeiro.




A Fundação Cartier em Paris apresenta exposiçao inédita sobre o universo que influenciou o surgimento do rock'n'roll nos Estados Unidos. Situada entre 1939 e 1959, a mostra exibe uma série de cartazes, fotos antigas, objetos típicos, além de muita música. Na década de 50, graças à televisão, o rock'n’roll invadia os lares norte-americanos, provocando uma verdadeira revolução musical e social. A maneira de cantar e de interpretar de artistas como Elvis Presley, Chuk Berry, Little Richard e Jerry Lee Lewis fascinaram as gerações mais novas e chocaram parte da sociedade norte-americana, ainda ligada aos valores conformistas, segregacionistas e puritanos dos Estados Unidos do pós-guerra.

No primeiro andar da Fundação Cartier estão exibidos juke boxes, máquinas de tocar música dos anos 40 e 50, fotos inéditas de Elvis Presley, uma reprodução de um estúdio de gravação, e um um cadillac orginal da época, um dos carros preferidos das estrelas do rock'n’roll. No subsolo, uma série de cartazes, fotos e extratos musiciais lembram os ritmos que influenciaram os precursores do rockn'roll. A mostra Rock'n Roll 1939-1959 pode ser visitada até o próximo dia 28 de outubro na Fundação Cartier, em Paris.

Arte Atual-Mattew Barney


O artista americano fala nesta entrevista sobre seu último trabalho "Drawing Restraint 9", em que ele também é ator junto com a sua mulher, a cantora Bjôrk, que assina a trilha do filme. Barney um expoente da arte contemporânea, conhecido por seus trabalhos intricados, esteticamente impactante, de referências múltiplas e híbridas, vide sua série Cremaster, fala nesta entrevista como seus filmes estão ficando mais cinemáticos, mais narrativos. Mas não muito, que fique claro.



Incensado pelo New York Times como “o artista americano mais importante de sua geração,” Matthew Barney criou uma recente série de filmes de arte que oferece algumas das imagens mais impressionantes vistas no cinema hoje, frequentemente com ele próprio no papel principal. O recente ciclo de filmes “Cremaster” e agora “Drawing Restraint 9,” são filmes que existem como parte de um trabalho artístico maior e que abrangem a escultura, a performance e o vídeo. Em seu novo filme, uma colaboração com Bjork, Barney e sua parceira interpretam os papéis de dois convidados que visitam Nisshin Maru, uma massiva embarcação baleeira japonesa. A bordo do navio, enquanto um grupo trabalha no deck para criar uma escultura feita de geléia de petróleo, os visitantes participam de uma série de elaborados rituais, culminando em uma intensa cerimônia de casamento. As seqüências - dirigidas com uma narrativa clara mas com poucos diálogos - são embaladas por uma poderosa trilha sonora original composta pela artista mais popular da música islandesa.

O filme, abstrato e visualmente magnífico viajou por um número limitado de festivais de cinema e será parte de uma exibição maior dos “Drawing Restraint” na Coréia, Europa e São Francisco.

Como os filmes do artista Matthew Barney são financiados por investidores individuais que possuem cópias do trabalho, seu novo e impressionante trabalho “Drawing Restraint 9” será visto somente por um limitado público nos cinemas e provavelmente nunca será lançado em DVD. Estreiando no IFC Center em Nova York, ele será exibido em menos de 20 cidades nos Estados Unidos. indieWIRE participou de uma prolongada discussão sobre o filme no Festival Internacional de Cinema de Toronto (em setembro de 2005) onde “Drawing Restraint 9” teve sua premiere na América do Norte.

iindieWIRE>> Estou um pouco hesitante em discutir sobre o filme porque sinto que seria necessário vê-lo mais uma ou duas vezes, mas… fiquei pensando sobre esta idéia do ritual: o embrulho dos presentes, a raspagem do cabelo, ou a criação desta escultura naquela embarcação. Depois de ter assistido o filme eu me vi pensando sobre todos os rituais que são relevantes na cultura japonesa e pensei se poderíamos começar discutindo se isso foi um fator para você contar esta história?
Matthew Barney>> Eu fui convidado por um museu no Japão para fazer uma exibição lá, e isso foi mais ou menos há cinco anos atrás. Eu me senti num lugar onde pude encontrar coisas com as quais eu poderia criar fortes relações. Mas, por um outro lado, senti também uma certa impossibilidade ao estar num lugar tão diferente daquele com minha própria cultura… então comecei a pensar sobre o relacionamento entre convidados e anfitriões. Eu mesmo era um convidado deste anfitrião, e pensei sobre como na cultura japonesa existem estes relacionamentos tão formais entre convidados e anfitriões. Existe uma coreografia inteira em torno desse relacionamento e de algum modo, me identificando como um convidado, pude começar a imaginar como poderia fazer isso, e como poderia ir lá e me sentir honesto sobre o que eu estava tentando fazer… Isto provavelmente foi o que me conduziu a este tipo de foco na imagem da baleia, ou na tradição da pesca da baleia, que é muito forte. Também tem a ver com esta imagem romântica de estar dentro de uma baleia, que nós todos conhecemos de “Moby Dick”, de “Pinocchio” e de todas estas outras histórias, que poderiam se encaixar nos relacionamentos convidado/anfitrião que já estavam em algum lugar, de alguma maneira, no meu modo de trabalhar. Todas essas coisas juntas deram início a uma estrutura, ou pelo menos uma base, de todo o meu trabalho.

iW >>Como então isso se relaciona com os outros oito aspectos da série “Drawing Restraint”? Esse trabalho não me é muito familiar mas acho que eles tomam formas diferentes - não são cinemáticos, são baseados em desenhos e, eu suponho, performances.
MB>> Sim, e há uma sala onde existe um vídeo multi-canal, que é uma espécie de meio do caminho entre um tipo de performance em tempo real e um trabalho cinemático.

iW>> E todos os nove trabalhos são parte de uma exibição num museu japonês? Se por acaso eu fosse a essa mostra, eu veria todos esses aspectos representados ali?
MB>> Hmmm. Talvez junto com a escultura do “9”, que é bastante significativa… mas eu acho que o “Drawing Restraint 9” está mais engajado com o Japão no sentido das funções naturais do Shintoismo e também como se fosse uma lente onde pudéssemos ver o mundo completamente. Durante uma das minhas primeiras viagens ao Japão, eu visitei um lugar chamado Santuário Ise. Ise é uma cidade, um santuário Shinto - um do mais sagrados deles. Há um grande número de lugares que têm templos dentro da floresta. Cada um destes lugares é retangular e coberto com pedras brancas e seixos pequenos. Numa metade fica um templo e na outra metade há uma caixa pequena. Durante vinte anos esses lugares ficam assim, e no fim dos vinte anos uma cópia do templo é construída onde estava a caixa e a antiga caixa é queimada. Uma outra caixa é colocada do outro lado e em outros vinte anos se faz uma nova troca. Isto tem sido assim desde sempre. E para mim essa imagem era muito poderosa. Me impressionou a maneira como o Shintoismo encara o fato da natureza ser dependente, ter que se deixar remover para poder criar. E comecei a pensar em como o projeto “Drawing Restraint 9” poderia se relacionar com os aspectos básicos do Shintoismo.

iW>> A indieWIRE te entrevistou quando você lançou “Cremaster 3” nos cinemas e nesta entrevista você falava sobre self-portrait. Eu queria saber se está acontecendo uma coisa semelhante agora, quando você descreve um relacionamento que está acontecendo a bordo de um baleeiro – com todas estas ligações entre tradição, história e ritual – e onde sua parceira (Bjork) é alguém com quem você já está envolvido num relacionamento – isso é um reflexo seu? Você está olhando para um relacionamento particular outra vez? Você está se colocando nele outra vez?
MB>> Eu acho que uma das diferenças fundamentais entre o ciclo “Cremaster” e este meu novo trabalho é que “Cremaster” é como se fosse uma pérola que se desenvolve dentro de uma ostra, ou seja, uma situação muito hermética, ele descreve uma coisa muito hermética. “Drawing Restraint 9” é mais como a maneira que o Shintoismo é descrito, às vezes graficamente, e isso tem a ver com uma série de relacionamentos internos. Se você pensar em sobrepor duas entidades – e no espaço que existe entre elas, procurando o todo - então você pensa sobre um tipo de relacionamento que se multiplica em muitos, muitos relacionamentos e se transforma numa maneira de olhar o mundo como uma série de relacionamentos internos… é como o Shintoísmo, que acredita que o interior da rocha é tudo. Deus vive na rocha, Deus vive na árvore, e em todas as partes vive o todo. Então tudo isso é muito diferente do modelo “Cremaster”. Mas penso que em termos da noção de um relacionamento, eu acho que é um relacionamento nesse nível, em um nível mais exato. Eu pensei que, trabalhando com Bjork, seria mais fácil contar uma história de amor, que era uma coisa que eu queria fazer também. Eu queria que o trabalho funcionasse como uma história de amor, mas acredito que nosso interesse em trabalhar juntos desse jeito provavelmente tinha mais a ver com o lado subjetivo e como nós dois nos relacionamos realmente com a natureza.

iW>> Antes de ver o filme eu não tinha escutado nenhuma das músicas, mas soube que elas foram lançadas antes mesmo que o filme começasse a participar dos festivais. Eu queria saber se você poderia explicar o processo criativo com Bjork, e se isso é uma extensão do “Drawing Restraint 9”, como foi essa colaboração. Como a música dela serviu de informação para a criação do seu filme ou vice-versa? Foi inteiramente colaborativo, ou vocês trabalharam separadamente ? Como foi essa dinâmica de trabalho entre vocês dois?
MB>> Eu acho que existiu um grande número de dinâmicas diferentes dentro deste trabalho. Em certas cenas a narrativa e a música foram desenvolvidas simultaneamente, em algumas cenas ela recebeu o corte para fazer a trilha e outras onde ela escreveu uma parte antes e a cena foi editada depois. Eu acho todas essas dinâmicas interessantes, mas o que mais me interessa é quando as duas coisas são desenvolvidas ao mesmo tempo, e que certamente fica mais natural para este tipo de trabalho porque não há nenhum diálogo. Você meio que depende da música, especialmente quando há letras na música.

iW>> Então de onde veio a idéia da música de abertura - que é basicamente em forma de uma carta - ou como você desenvolveu a idéia de uma carta que se ajusta para contar esta história?
MB>>Eu encontrei uma compilação de cartas do povo japonês para o general MacArthur durante a ocupação, e descobri um tom que senti ser muito apropriado, uma vez que visualmente nós víamos um presente sendo embrulhado. Ler cartas do povo japonês ao general MacArthur, apenas alguns anos depois que a bomba foi lançada, foi completamente desconcertante para mim… ler estas cartas tocantes escritas para ele, eu realmente não podia entender. Havia uma coisa que li num dos livros japoneses sobre os baleeiros, que tinha a ver com uma das coisas que MacArthur fez no Japão, que foi sugerir que eles transformassem embarcações militares em navios baleeiros. A carta do início do filme foi manipulada, eu adicionei algumas coisas sobre baleeiros nela.

iW>> Eu li o texto da carta no encarte do CD e pensei se essa carta foi usada como uma base que você usou para começar a contar a história, conectando com as imagens do embrulho do presente (na cena da abertura). É uma seqüência bonita que vem antes da seqüência formal dos créditos onde as imagens dos instrumentos combinadas dão forma às palavras “Drawing Restraint 9”. É uma prévia surpreendente de onde a história vai. Como isso apareceu?
MB>> É um relacionamento entre um tipo de condição pré-histórica e uma condição contemporânea. Como o fóssil pré-histórico, que é a fonte do petróleo, e a maneira que o petróleo substitui eventualmente o óleo de baleia como fonte primária de energia, e como ambos podem conviver simultaneamente. Aquele tipo de embrulho é usado em ocasiões festivas, como ano novo, ou um casamento. É um típico embrulho de um presente de casamento. E os trajes que se usam na cerimônia chave são para um casamento Shinto.

iW>> Mudando um pouco de assunto: o projeto “Drawing Restraint 9” atinge um ponto culminante, onde você decide trabalhar de forma mais cinemática outra vez. Mas, muitas pessoas, que não terão a experiência de ver todo o projeto junto, vão sentar no cinema durante duas horas e meia e ver o filme. Você poderia explicar um pouco sobre como ou quando você decidiu usar a forma - se é que posso usar essa palavra – cinemática mais tradicional para contar uma história? Você acha que a experiência de um espectador do Japão, que pôde ver o projeto como um todo ou alguém que foi ao Guggenheim e viu tudo do “Cremaster” é muito diferente de um espectador que viu somente o filme num festival?
MB>> Acho que isso começou com o “Cremaster 4”, quando o Film Fórum de Nova York perguntou se poderiam exibi-lo. Acho que eles tinham visto uma projeção que tínhamos feito onde nós mesmos montamos um projetor e exibimos num espaço. Mas sempre quis mostrá-lo numa forma linear. As partes do filme que eu fiz antes eram mais para funcionar como loops em salas com várias telas com projeção simultânea. Com o “Cremaster 4,” eu quis que o trabalho fosse visto do começo até o fim - quando nós fomos convidados para mostrar o filme no Fórum de Nova York, me pareceu uma ótima oportunidade para isso. Mas o mais interessante - talvez não tanto com os “4,” mas com a parte seguinte - “1” e então “5,” um outro público começou a vir para vê-los. Fiquei muito excitado com isso. E acho que isso afetou o modo de como os números “2” e “3” foram feitos…

iIW>> É mesmo?
MB>> Sim, nesses eu pensei como um texto, ou como um filme, e em como eles funcionariam como um filme – mesmo de forma um pouco excêntrica - mas acho que podem funcionar, existe um público para eles. Mas, eles podem funcionar também dentro de um outro sistema, como numa escultura narrativa, em que primeiramente você faz um texto e depois você faz os objetos. Eu começo com uma história e depois faço a escultura dessa história, e as histórias ficam mais e mais elaboradas. Mas acho que isso se deve ao fato de que eu estou excitado por que isso funciona das duas maneiras e assim acho que eu fiz força para ser mais cinemático, porque o trabalho parece ter sido destinado para ser assim e eu tive uma habilidade para fazer isso. Enfim, é muito orgânica a forma que isso acontece, e é também verdadeiro que eu uso o vídeo em primeiro lugar. Quando eu comecei a usar o vídeo, era só uma câmera de vídeo na mão, emprestada de um amigo, que me gravava fazendo alguma coisa em meu estúdio. Era só um registro vagaroso e aos poucos essa ações tomaram um outro sentido, mais direcionado ao personagem, mais narrativo, e comecei a editá-lo, e aos poucos tudo se tornou mais fílmico... Mas lentamente…

Arte Atual- Joseph Beuys


"Todo mundo é um artista."
"Libertar as pessoas é o objetivo da arte, portanto a arte para mim é a ciência da liberdade."
"Tornai os segredos produtivos."
J.B.



Beuys nasceu em Krefeld e cresceu em duas pequenas localidades da região, Kleve e Rindern. Ele travou algum contato com a arte na juventude, tendo visitado o ateliê de Achilles Moorgat em várias ocasiões, mas decidiu seguir carreira em medicina. Entretanto, com a explosão da Segunda Guerra Mundial, ele se alistou na Força Aérea Alemã (Luftwaffe).

Costuma-se dizer que a predominância de feltro e graxa na obra de Beuys é devida a um incidente ocorrido na guerra. Beuys foi alvejado e seu avião caiu durante uma missão na Criméia e ele acabou sendo resgatado por tártaros. Ele teria sido salvo ao ter sido recoberto por feltro e gordura. Não se sabe se essa história é verdadeira, mas agora ela já faz parte do mito que cerca a figura de Beuys.

Depois da guerra, Beuys concentrou-se na arte e estudou na escola de arte de Düsseldorf de 1946 a 1951. Nos anos 1950, ele se dedicou principalmente ao desenho. Em 1961, ele se tornou professor de escultura na academia, mas acabou sendo demitido de seu posto em 1972, depois que insistiu em que suas aulas deveriam ser abertas a qualquer interessado. Seus alunos protestaram, e ele pôde manter seu ateliê na escola, mas não recuperou as aulas.

Em 1962, Beuys conheceu o movimento Fluxus, e as performances e trabalhos multidisciplinares do grupo - que reuniam artes visuais, música e literatura - inspiraram-no a seguir uma direção nova também voltada para a performance. Beuys se associou ao Fluxus e se tornou seu membro mais significativo e famoso. Sua obra tornou-se cada vez mais motivada pela crença de que a arte deve desempenhar um papel ativo na sociedade.

Em 1979, uma grande retrospectiva da obra de Beuys foi exibida no Museu Guggenhein de Nova York, consolidando sua reputação como um dos mais importantes artistas de seu tempo. Ele morreu em 1986 em Düsseldorf.

Beuys foi um dos pioneiros do movimento ambientalista alemão e teve participação ativa na política. Ele fundou várias organizações políticas, como o Partido Alemão dos Estudantes, em 1967 (alemão: Deutsche Studentenpartei DSP), e a Organização para a Democracia Direta, em 1970. Em 1979, ele se tornou um dos membros fundadores do Partido Verde Alemão. Mesmo tendo até arriscado uma candidatura em uma eleição pelos verdes, Beuys expressou no fim da vida desgosto pela política partidária e havia se afastado das atividades do PV.


Trabalhos mais comentados-conhecidos.

A Matilha (1969) - instalação com uma Kombi Volkswagen e 24 trenós de madeira
contendo feltro, lânternas e gordura;
Como Explicar Desenhos a uma Lebre Morta (1965) - o artista vaga pela galeria com o rosto recoberto de mel e ouro, carregando no colo uma lebre morta com quem ele fala;
Terno de Feltro (1970) - um terno de feltro em um cabide de arame;
Canto Gorduroso (1973) - gordura de porco no canto de um espaço. A gordura derrete e se torna rançosa com o tempo;
Eu Amo a América e a América me Ama (EUA, 1974) - performance em que o artista ficou envolvido em feltro em uma sala com um coiote durante cinco dias;
Bomba de Mel no Local de Trabalho (Documenta de Kassel, 1977) - instalação / performance em que alunos da Universidade Livre Internacional de Criatividade e Pequisa Interdisciplinar tomam parte;
7.000 Carvalhos (1979) - Sete mil pedras foram espalhadas em Kassel durante uma documenta: para cada pedra retirada, Beuys determinou que seria plantado em seu lugar um carvalho, na esperança de que a idéia se espalharia para mais cidades.

Sobre a relação Beuys – Barney



MATTHEW BARNEY E JOSEPH BEUYS
All in The Present Must Be Transformed: Matthew Barney and Joseph Beuys


PEGGY GUGGENHEIM COLLECTION
704 Dorsoduro
I-30123 VENEZA

06 JUN - 02 SET 2007


Sobre a relação Beuys – Barney

A relação entre Matthew Barney e Joseph Beuys é tão estreita que impressiona quem nunca pensou nela. A exposição é interessante por fazer esse curto-circuito entre duas órbitas paralelas. Além disso é parca e, para dar conta do paralelismo, usa as peças mais semelhantes de ambos os artistas, os seus materiais fetiche, os seus desenhos crípticos, as suas vitrines, as performances, os vídeos, as instalações, os detritos – englobados nas respectivas e distintas (mas estruturalmente semelhantes) filosofias de vida e arte.

Ambos são exactamente o que fazem, personagens de sua própria criação e construção. Vivem ambos uma história mítica e misteriosa e personificam a figura do xamã ou do anti-herói. Beuys toca mais na realidade social; Barney funciona mais no ciber-espaço cinematográfico. Beuys desceu à Terra e Barney aos confins da Terra.

Beuys cria um mito de origem – a história de que foi salvo na Crimeia, após a queda do seu avião militar alemão durante a Segunda Guerra Mundial, por uma tribo de tártaros nómadas, que o envolvem em feltro e banha de animal; Barney produz um mito de criador onde o cinema e os seus cenários veiculam um mundo de personagens assexuadas e híbridas, que existem numa ficção que une bocados do mundo real – paisagens e elementos soltos – a uma espécie de epopeia cyborg, por entre líquidos e às vezes a alta velocidade.

Vi a exposição durante a inauguração da Bienal de Veneza, o que foi um agradável intervalo na situação hiper-estratificada da Bienal. A exposição sobre a relação que se estabelece entre os dois artistas é clara e estruturada. Marca um ponto histórico muito pertinente. Na altura encontrei o curador Delfim Sardo, que me confessou ter proposto esta mesma exposição no início da sua programação como Director do Centro de Exposições do Centro Cultural de Belém, o que acabou por não acontecer – dado que Matthew Barney, à data, ainda não se sentia preparado para a exposição. Esta, a actual, é comissariada por Nancy Spector, comissária-chefe do Museu Solomon R. Guggenheim, e feita em grande parte a partir do espólio do próprio museu.

A exposição “All in The Present Must Be Transformed, ocupa o Palazzo Venier dei Leoni, tradicionalmente dedicado à colecção de Peggy Guggenheim, e investiga os elementos-chave, estéticos e conceptuais da obra dos dois artistas. Do pós-guerra até 1986, Beuys trabalha essencialmente em Düsseldorf, onde é também professor universitário e activista político; Barney é um artista norte-americano contemporâneo dos mais proeminentes. Ambos fizeram uma instalação site-specific para o Museu Solomon R. Guggenheim de Nova Iorque – Beuys em 1979, Barney em 2003 com o “Cremaster Cycle”.

A exposição centra-se em três tipos de elementos fundamentais e comuns ao trabalho de ambos – as vitrines, os desenhos e as esculturas; centra-se também no exercício de encontrar nos dois tipos de pensamento, um modernista e o outro pós-modernista, as semelhanças no uso metafórico de matérias em metamorfose e a relação que ambos têm com a performance, a acção directa e a sua documentação. Beuys utiliza símbolos com um ideal terapêutico, enquanto Barney os usa para criar um universo singular, que esteticamente cria um sistema próprio e representa uma cosmologia de energias em potencial.

São as esculturas, na sua complexidade, que criam o corpo central das duas mitologias, a par das acções, dos vídeos e dos desenhos que as estruturam. A escultura de Matthew Barney essencial à exposição é “Chrysler Imperial”, que lembra uma máquina destruída da qual se tirou um molde em vaselina. Beuys, com “Honigpumpe am Arbeitsplatz” (Bomba de Mel no Local de Trabalho) (1977), mostra o resíduo da peça que serviu de sistema simbólico às actividades durante a Documenta VI – a peça é agora o que sobrou da instalação que bombeou duas toneladas de mel por tubos que ligaram áreas como a escada à sala de conferências, no intuito de fazer circular calor, energia e criatividade durante os cem dias de conferências, filmes, seminários e activismo social relacionados com a sua Free International University.

Um momento chave da exposição é o vídeo “Field Dressing” (1989), onde Barney interage com uma escultura, mostrando a disciplina do seu corpo atlético em perfeita tensão entre impulsos sensuais e uma resistência perversa e transmitindo a ideia de potencialidade comum a ambos os artistas.


Ana Cardoso

quarta-feira, 1 de agosto de 2007

I Mostra Índice de Vídeoarte – Recife/ PE


Nos dias 26 e 27 de Setembro de 2007 ocorrerá a I Mostra Índice de Vídeoarte. Com o intuito de promover a difusão e a reflexão da produção contemporânea em vídeoarte – visando uma aproximação deste tipo de suporte artístico com o público interessado –, este evento busca contribuir para o debate, formação e referência sobre a produção contemporânea que utiliza o vídeo como linguagem para a realização de pesquisas artísticas.



1. Bases de Participação
1.1 Poderão participar da I Mostra Índice de Vídeoarte qualquer artista ou grupo de artistas interessados, com obras realizadas em qualquer suporte audiovisual, com resultado final em DVD.



1.2 Os vídeos podem ser enviados até o dia 21 de setembro de 2007.



1.3 Poderá participar qualquer trabalho que utilize o audiovisual como mídia: registro de performance, vídeoperformance, vídeo arte, cinema de artista...



1.4 Cada artista ou grupo terá direito a até 15 minutos de exibição, cabendo a estes decidir quantos vídeos serão exibidos nesse tempo.



1.5 Todos os trabalhos inscritos serão apresentados.



1.6 Para inscrever-se é necessário o seguinte material:

a) DVD com o trabalho

b) Ficha de inscrição preenchida

c) Curriculum resumido


2. Observações Importantes:

2.1 A Produção não se responsabiliza pelo extravio do material ou danos ocorridos ao mesmo durante a remessa




2.2 As despesas do envio e do recebimento do vídeo ficam a cargo do artista ou grupo, que caso queira receber seu vídeo de volta, deve enviar um envelope selado no valor correspondente ao de envio.


2.3 O material deve ser enviado para:
I Mostra Índice de Vídeoarte – Recife/ PE
A/C Museu Murillo la Greca Rua Leonardo Bezerra Cavalcanti, 366
Parnamirim, Recife - PE
CEP: 52060-030


Para maiores informações: (81) 9261 2022 (Barbara Rodrigues)
E-mail: mostrarecife@gmail.com
Produtora da I Mostra Índice de Vídeoarte – Recife/ PE
Barbara Rodrigues (Artista visual - PE)

domingo, 1 de julho de 2007

VERBO-Galeria Vermelho. Sao Paulo


Imagen divulgação de SEARCH-performance de Aslan Cabral



Projeto sem fins lucrativos criado em 2005, o objetivo da VERBO é apresentar ações, instalações e publicações ligadas à arte da performance. Evento de caráter interdisciplinar, que reúne artistas das artes do corpo e das artes visuais, a VERBO propõe criar, no espaço da Vermelho, um ambiente de convivência que permita encontros e trocas de experiências entre público e artistas de diferentes procedências.

Diferente das edições de 2005 e 2006, em que os trabalhos foram selecionados através de convite direto aos artistas, em 2007 o processo de seleção de trabalhos foi aberto para que artistas do Brasil e do estrangeiro enviassem seus projetos. A intenção foi democratizar a seleção, ampliando as possibilidades de abrangência do evento. O retorno foi surpreendente. Foram recebidos mais de 250 projetos. A seleção dos trabalhos foi feita em conjunto pela curadora Daniela Labra, parceira da Vermelho para o projeto VERBO, desde 2005, Eduardo Brandão e Marcos Gallon, ambos da Vermelho. O critério de escolha dos projetos foi determinado pela inovação das propostas, e pelo histórico das performances já apresentadas em edições anteriores. Não há, como em outros eventos do gênero, um tema central. O objetivo da VERBO é apresentar, uma vez por ano, um panorama plural das criações na área da performance.

Foram selecionados 34 trabalhos que serão distribuídos nos seis dias de duração do evento. Há trabalhos de artistas representativos no cenário da performance que, em alguns casos, já participaram de outras edições da VERBO, como, “Zona Morta” (2007), de Maurício Ianês, SP; “O Beijo” (2007), de Cris Bierrenbach, SP; “Ópera do cotidiano” (2007), de Ana Montenegro e Edigar Ulisses, SP-PE; “Body Presence” (2007), da brasileira radicada na Holanda Rose Akras; “OPOSITIVO” (2007) do Grupo Empreza, (GO); “Ping Pong JU” (2007), de Bob N e Fernando de La Rocque, RJ; e “Snowman” do finlandês Anti Laitinen.

Grande parte dos projetos enviados se apropriam da internet e a subvertem de formas distintas. Foram selecionados: “Songs of Googlism” (2006/2007), do D1G1GARD3N (digigarden) formado pelo duo de artistas Nivaldo Godoy Jr. e Panais Bouki. No trabalho a dupla utiliza dados do Google para criar textos montados com fragmentos de frases vindas de diferentes sites da internet; “Cozinha Cultural” (2007), de Teresa Berlinck, SP, ocupará parte do pátio da Vermelho. Para criá-lo, a artista reuniu em um blog ingredientes, utensílios, receitas e dicas cedidas por colegas e amigos. Durante os seis dias do evento, por duas horas, Berlinck preparará uma receita diferente com os ingredientes e utensílios coletados no blog; e “Saindo do Armário” (2007), de Ricardo Oliveros, SP, projeto que pretende estabelecer um jogo entre um dançarino, um DJ e o público, através da edição e transmissão via internet das imagens captadas durante a performance.

Foram recebidos também, uma série de projetos que estabelecem uma relação direta com a música, como: “Obra-Prima” (2007), de Siri e Debora Engel, RJ. Na obra, os artistas utilizam elementos e sons coletados em canteiros de obras da cidade, como cones, tubos, baldes, molas, e etc., e os transformam em instrumentos de percussão; Em “Minha buceta não é corporativa” (2007), Jezebel the bullet woman is back (SP), apresenta um pocket show-performance com músicas que discutem a questão do feminismo na atualidade.

Criados por jovens artistas que vem da área da dança, foram selecionados: “In-Organic” (2006), de Marcela Levi, RJ; “carne” (2007), de Micheline Torres, RJ; e “Primeiro era depois” (2007), de Joana Ferras e Juliana Ferreira.

A VERBO conta também com trabalhos instalativos, como, “Procurador de Sentido” (2003-2007), de Diogo Moraes, SP, obra composta por uma série de desenhos resultado dos deslocamentos do artista pela cidade de São Paulo; “Objeto Suprematista” (2007) de Guilherme Teixeira, SP, obra que serve de assento, mas também como plataforma de salto. O grupo carioca OPÁVIRARÁ constrói, com mais de 300 plantas, seu “NAMOITA” (2006). Em “Vending Machine” (2007), das paulistas Carolina Mendonça e Tainá Azeredo, o público poderá comprar (R$.3,00), kits variados divididos por categorias, como, artista virtual, artista autobiográfico, fotógrafo, performer, body art, vj, apreciadores, críticos, não apreciadores, e etc.

Além disso, a curadora Daniela Labra ministrará, simultaneamente ao evento, a oficina “Discutindo a arte da performance”, no Centro Maria Antonia



Release das Acões:
http://www.agenciaverbo.com/amostra/mostra2007.asp?idioma=pt&id_artistas=154&cursorPosicao=1

quinta-feira, 28 de junho de 2007

ARTE ATUAL-Aslan Cabral







LOOP-da série pleonasmo.2007


"a assinatura em linhas, desenhos que não remetem a letras.Na fotografia do meu rosto o incomodo pelo pleonasmo...loop"

Aslan Cabral, artista pernambucano, exibiu Loop em março deste ano na A gentil Carioca.Disponivel na galeria.

BIENAL-PRAGA até 16 de setembro.



Carla Accardi uma das homenageadas da bienal.



Vanessa Beecroft(performance-foto)Marina abramovich, e Shirin Neshat são convidados especiais da terceira edição do evento.

Agora em seu terceiro ano, PRAGUEBIENNALE se re-lança uma vez mais. Através de uma exposição vasta de recentes trabalhos e antigos (da pintura e da fotografia à performance e instalação) a edição deste ano explora e localizar os aspectos os mais significativos da arte européia central. A mostra indica artistas novos e velhos,anonimos e famosos. As exhibitions especiais foram dedicados ao minimalism czech e actionism de Slovak, que, não têm sido documentados em um nível internacional. A ala "pintura expandida" (PRAGUEBIENNALE veritably ' baptised ' ou, assim que para falar,, homem do vencedor e Wilhelm Sasnal), expandiu a pintura 2, apresentará vinte artistas europeus emergentes.
Há também um foco especial ' na escola de Cluj ' em Romania, que, após Leipzig e Dresden, está provando ser um goldmine de pintores contemporaneos. entretanto, as estrelas verdadeiras de PRAGUEBIENNALE3 são certamente as culturas marginalizadas e as histórias menores de Europa central


mais info:

http://www.balkanlink.org/app/front/view_event/event_id-92/

http://www.flashartonline.com/pg_PRAGUE_BIENNALE3.htm#data

ARTE ATUAL-Nara Varela



Sem título.desenho nanquim-2005


"desenho com nanquim que faz parte de uma série de histórias não lineares e quase sem sentido".

Nara Varela estuda belas artes na UFRJ e além do desenho pinta e realiza performances junto à "brigada de incendio".

terça-feira, 26 de junho de 2007

CREAM 4? no thanks-ICE CREAM-please


Vladimir Dubosarsky e Alexander Vinogradov



AyA takano


Ice cream é a quarta edição do Cream- um livro-guia-catalogo lancado pela phaidon desde 1998. O livro mostra fragmentos das obras de 100 artistas selecionados por 10 curadores "renowed" mundo afora.

Dentre os 100 artistas os brasileiros jarbas lopes, cao guimaraes,marepe, detanico & lain, sara ramo entre outros fazem parte deste casting.
O primeiro cream foi lançado em 1998-em sua segunda edição foi intitulado FRESH CREAM, depois de CREAM 3 e agora ICE CREAM.

mais info:
http://www.phaidon.com/icecream/

domingo, 24 de junho de 2007

Arte Atual-Leon Domingos Gomes Esteves.



Totem do excesso. 2007



O artista londrinense, estudantes de artes plásticas na Faap montou este trabalho coletivamenta, estabelecendo uma rede de pessoas que deslocaram objetos pessoais para a galeria de arte casa do lago em campinas.

"o equilíbrio é uma questão intríseca do totem....
este não almeja ser o mais alto, mas sim comportar o maior numero de objetos".
Leon Domingos gomes Esteves

Galeria Santa Clara-Coimbra De 07-07-07 a 29-07-07




A exposição «Coimbra - Aix-en-Provence» na Galeria Santa Clara em Coimbra - Portugal quer promover as relações entre artistas e comunidades artísticas das duas cidades gémeas e criar oportunidades de internacionalização.

L’exposition «Coimbra - Aix-en-Provence» à la Galerie Santa Clara à Coimbra - Portugal veut promouvoir les relations entre artistes et acteurs culturels des deux villes jumelles et créer des opportunités d'internationalisation.


Festa de inauguração - sáb. 07/07/07 19h
Djs - performances - projecções
Fête d’inauguration - sam. 07/07/07 19h
Djs - performances - projections



Veja a programação e baixe o catalogo em www.identitesnouvelles.com/coimbra

Espaços Plurais-Exp. Coletiva. Campinas-SP



TOTEM-Leon Domingos Gomes Esteves.





Com curadoria da artista e professora Regina Johas, do Instituto de Artes da Unicamp, Espaços Plurais é uma exposição que reúne jovens artistas em torno de proposições instigantes no campo contemporâneo da arte. A mostra apresenta trabalhos variados, como instalações, esculturas, intervenção urbana, desenho, ação e performance.

Contextualizada dentro do Projeto de Extensão Zona de Experimentação (ZoE), sob responsabilidade da Prof. Regina Johas, esta exposição ecoa algumas questões discutidas na última Bienal de São Paulo ao apresentar a ação multiforme de artistas que buscam re-significar objetos e moradia, por um lado, e trajetos ou deslocamentos, por outro, recompondo a paisagem de nossas ações cotidianas em sua inscrição no espaço que nos circunda.

exposição até 21 de julho

sexta-feira, 22 de junho de 2007

Documenta 12-Kassel, Alemanha.






A “Documenta 12” abriu as portas ao público no inicio do mês. na cidade alemã de Kassel (encerra a 23 de Setembro) assumindo-se como uma celebração artística mas também de cidadania, reconhecida pelo seu cunho inovador e vanguardista. Contando com a participação de 113 artistas e mais de 500 obras, seleccionadas pelo director Roger M. Buergel em parceria com Ruth Noack, o grande objectivo desta edição é atrair nos próximos dias cerca de 650.000 visitantes, estabelecendo um novo recorde. O grande carrosel de Andreas Siekmann, uma metáfora sobre política, globalização, repressão policial e refugiados, destaca-se na praça em frente ao Museu Fridericianum, de cujas janelas escapam bonitas ondas de aço e placas traslúcidas da brasileira Iole de Freitas. Na planta de baixo da instituição uma dezena de monitores transmitem ininterruptamente a final Itália-França do Mundial 2006, a partir de distintas perspectivas e técnicas. A instalação do checo Harun Farocki, é apontada como uma das que reunirá mais visitantes, assim como a proposta do chinês Ai Wei Wei que anunciou a presença em Kassel de 1.001 compatriotas, convertidos em “experiência artística” real e palpável - seleccionados via casting, por internet, entre milhares de candidatos. Os primeros 200 estão instalados, em jeito de alojamento de campanha, numa velha fábrica da cidade e os restantes chegarão nas próximas semanas. Paralelamente, dentro de outro pavilhão estão instaladas 1.001 cadeiras de madeira da dinastia Qing, restauradas, uma para cada um dos convidados. Enquanto os compatriotas de Ai Wei Wei se integram na paisagem urbana, aquele que se anunciava como a principal estrela do evento, o cozinheiro espanhol Ferran Adrià, será uma presença distante. O seu projecto consistiu em converter o restaurante de que é proprietário, “El Bulli”, no Pavilhão G da Documenta, a 1.500 kilómetros de distância, na localidade de Rosas (em Gerona, Espanha). Em Kassel, o único vestígio da sua participação é o nome incluído no catálogo, assim como no guia de mão, em que consta a existência de um “Pavilhão G” sediado em “Spanien”. A opção de Adrià contrasta con o intuito de Buergel de fazer da Documenta um convite à participação do grande público. A cozinha de Adrià só é praticável no “El Bulli”, pelo que se optou, em consequência a esta excepção à norma da Documenta, por concentrar em Kassel a arte mais inovadora. Desde 1955 que Kassel se converteu, em cada quatro anos, na sua primeira época, e agora em cada cinco, no centro da vanguarda artística. O primero director da mostra, Arnold Bode, elegeu esta cidade, que foi literalmente varrida (até 90% das suas casas) pelos bombardeamentos da II Guerra Mundial, e converteu-a, na época, no cenário ideal para a reabilitação de vanguarda que os nazis catalogaram de arte degenerada. Buergel quis que o evento estabelecesse um diálogo entre o moderno e o antigo. Para alguns críticos presentes em Kassel, o conjunto tem um certo ar de anos 70 ou de “dejà vu”. A saturação de mostras de arte contemporânea no Verão europeu deste ano - Kassel, Art Basel, a Bienal de Veneza e a mostra de esculturas de Münster - contribui para transmitir essa sensação, assim como a ideia de que, nesta edição, não estão presentes grandes nomes da cena artística internacional. Buergel propôs-se compensar este défice teórico com o seu conceito de passeio planetário para a arte mais inovadora e concedeu parte do protagonismo à América Latina, África e Ásia. Cada visitante terá, deste modo, a opção de descobrir por si mesmo o que essas latitudes, relativamente distantes dos grandes circuitos, têm para oferecer, afirmou.

Brasil na mostra
A brasileira Iole de Freitas está entre os artistas selecionados. Nascida em Belo Horizonte e radicada no Rio de Janeiro, ela é um dos principais nomes da arte contemporânea nacional.

Seus trabalhos se apropriam de técnicas da fotografia, do cinema, da escultura e da gravura. Atualmente, ela experimenta materiais como os tubos de metal e as placas de policarbonato.

Cerca de 8 mil metros quadrados de exposição estão distribuídos nos três locais tradicionais da mostra, mas também pela primeira vez no palácio classicista de Wilhelmshoehe e seu parque, onde um artista tailandês plantou um arrozal.

A Documenta, cuja primeira edição remonta a 1955, se celebra a cada cinco anos. Em sua décima segunda edição, o orçamento chega a 19 milhões de euros, a metade dos quais serão destinados à cidade, ao estado regional de Hesse e ao estado federal alemão.

O restante será obtido com a venda de ingressos (18 euros ou US$ 24,3 por dia de visita) e com patrocinadores. Espera-se a vinda de 650 mil visitantes.

Uma obra exposta ao ar livre e batizada de “Template”, do chinês Ai Weiwei, desmoronou após uma tempestade anteontem.

A instalação, situada sobre o jardim diante de um dos pavilhões da mostra, uma torre de 12 metros, já foi reconstruída, mas acabou se tornando umas as mais populares da exposição, graças ao acidente.

sábado, 9 de junho de 2007

Palais de Tokyo-Palais/Paris





Du minimalisme aux bikers, en passant par la noise music, la piraterie, les comic books et le tatouage, ce troisième numéro de PALAIS / est consacré à l’univers et à la figure de Steven Parrino. / From Minimalism to bikers, while also touching on noise music, piracy, comic books and tattoo art, this third issue of PALAIS / is devoted to the world and person of Steven Parrino.



O Palais de Tokyo acaba de lançar o 3° numero de sua revista PALAIS /(edição de verão). A revista é bilingue tem 96 paginas coloridas e aborda em seus artigos além do nucleo da arte européia, extremidades esportivas, musicais entre outras choses.
mais info
www.palaismagazine.com

quarta-feira, 6 de junho de 2007

UnB vai a encontro sobre performance


Gramines-Maycira Leao
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Três trabalhos que envolvem corpo e política desenvolvidos na universidade serão apresentados em reunião na Argentina
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RACHEL LIBRELON
Da Assessoria de Comunicação

A Universidade de Brasília (UnB) terá três representantes (veja lateral) no 6º Encontro Corpolíticas, que será realizado em Buenos Aires (Argentina) entre os dias 8 e 17 de junho. Considerado um dos maiores encontros de performers (artistas e estudiosos que se propõem a utilizar e fundir diversas linguagens de arte) das Américas, a reunião de 2007 tem como tema Formações de Raça, Classe e Gênero. Dos três participantes da UnB, apenas o coordenador do Laboratório Transdisciplinar de Estudos sobre a Performance (Transe) da UnB e professor do Departamento de Sociologia, João Gabriel Teixeira, já participou do encontro, em edições realizadas no México e no Peru.

Segundo ele, essa é a primeira vez que a UnB consegue levar três projetos ao Corpolíticas, no qual os performers misturam manifestações artísticas corporais com a política. O professor fará uma apresentação teórica e apresentará um DVD sobre o projeto Artificações, desenvolvido com estudantes de graduação em 2006. “É um trabalho que envolve juventude, cultura e corpo em performances”, explica Teixeira. O coordenador do Tubo de Ensaios da Diretoria de Esporte, Arte e Cultura (DEA) da UnB, Magno Assis, também levará um vídeo do projeto que organiza performances na UnB. “Representarei um trabalho coletivo”, explica Assis. O projeto já teve sete espetáculos apresentados no Instituto Central de Ciências (ICC).

NA RUA - Já a mestranda do Instituto de Artes (IdA) da UnB Maycira Leão tomará a Plaza de Mayo, na capital argentina, com a performance Experimentos Gramíneos. Na apresentação, a artista se veste com uma roupa de grama artificial e transita pela paisagem verde, deita-se na grama e avança pelo asfalto. “O resultado depende da interação com o público”, explica Maycira. Além dela, apenas outros 10 grupos e artistas do Chile, Argentina, Colômbia, Estados Unidos e Bolívia, poderão usar a praça para apresentações durante o encontro. Todas estão marcadas para 14 de junho.

As demais atividades do 6º Encontro Corpolíticas – organizadas pelo Instituto de Performance Política, com sede em Nova York, e pelo Centro Cultural Recoleta, em Buenos Aires – serão realizadas no Centro Cultural e no Teatro Empire. No total, cerca de 400 estudiosos e artistas de toda a América estarão na Argentina para a reunião.

Hélio Oiticica -Online


Bolide Vidro 1 1963




Relevo espacial 1959



O grande Nucleo 1960




Hélio Oiticica (Rio de Janeiro, 26 de julho de 1937 — Rio de Janeiro, 22 de março de 1980) foi um pintor, escultor, artista plástico e performático brasileiro. É considerado um dos artistas mais revolucionários de seu tempo e sua obra experimental e inovadora é reconhecida internacionalmente.

É neto de José Oiticica, anarquista, professor e filólogo brasileiro, autor do livro O anarquismo ao alcance de todos (1945).

Em 1959, fundou o Grupo Neoconcreto, ao lado de artistas como Amilcar de Castro, Lygia Clark e Franz Weissmann.

Na década de 1960, Hélio Oiticica criou o Parangolé, que ele chamava de "antiarte por excelência". O Parangolé é uma espécie de capa (ou bandeira, estandarte ou tenda) que só mostra plenamente seus tons, cores, formas, texturas e grafismos, e os materiais com que é executado (tecido, borracha, tinta, papel, vidro, cola, plástico, corda, palha) a partir dos movimentos de alguém que o vista. Por isso, é considerado uma escultura móvel.

Foi também Hélio Oiticica que fez o penetrável Tropicália, que não só inspirou o nome, mas também ajudou a consolidar uma estética do movimento tropicalista na música brasileira, nos anos 1960 e 1970.

Obteve a 13ª posição na lista "O brasileiro do século", na categoria "Arquitetura e Artes Plásticas", organizada em 1999 pela revista IstoÉ, tendo recebido 22% dos votos dos especialistas que formaram o júri.

wikipedia.com.br
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"Agitação súbita ou alegria inesperada." Era o significado de parangolé na gíria dos morros cariocas nos anos 60. Era tanto o burburinho de uma roda de samba quanto o susto de uma batida policial. Mas para o artista plástico Hélio Oiticica parangolés eram capas de algodão ou náilon, com poemas em tinta sobre o tecido. Em repouso, quando estavam fechadas, lembravam "as asas murchas de um pássaro", segundo o poeta Haroldo de Campos. Bastava alguém vesti-las e abrir os braços para que se confundissem com uma "asa-delta para o êxtase", percebeu o poeta.

Hélio Oiticica (nascido a 26 de julho de 1937, no Rio de Janeiro) é fruto de um berço rebelde. O avô, José Oiticica escreveu O anarquismo ao alcance de todos. "Depressa! Escondam os livros no piano de cauda!", berrava o velho quando a polícia batia à porta. Durante o Estado Novo, volta e meia era preso na Ilha Rasa. Getúlio Vargas, que jogava golfe nas terras de uns parentes dos Oiticica no Sul, entretanto, intercedia a seu favor. A avó Sinhá sabia a hora em que o ditador regava as flores no Palácio do Catete. Ao vê-la agarrada à grade do jardim, Getúlio acudia: "Ah, já sei, Sinhá. Ele foi preso outra vez. Venha tomar um chá enquanto eu mando soltá-lo."

Audácia O pai, José Oiticica Filho, cientista (estudava insetos), pintor e fotógrafo, proibiu os filhos de cumprirem o serviço militar. "Fomos ensinados a pensar com a própria cabeça", afirmou a ISTOÉ o irmão de Hélio, César. Desde cedo foi um pintor audaz. "O quadro está saturado e empobrecido por séculos de parede", diagnosticou. Era preciso, portanto, "saltar fora da tela". Da fase inicial de guache sobre cartão, pulou para os "relevos espaciais" (placas penduradas no teto). O espectador tinha que passear pela sala para observar a obra. Espelhos, luzes e a combinação de tons claros e escuros de vermelho, amarelo e laranja davam a idéia de movimento. Núcleos eram várias chapas retangulares que pareciam "flutuar" ao redor do espectador. Aí inventou os Penetráveis - labirintos em que a pessoa interagia com a obra ao pisar em folhas secas ou na areia e molhar os pés. O mais famoso é o Tropicália, palavra que Hélio inventou e acabou batizando o movimento musical de Caetano Veloso e Gilberto Gil. Eram corredores escuros enredados de fios, com aroma de capim cheiroso, que davam num cubículo em que havia uma tevê ligada. Do lado de fora, plantas tropicais e araras de verdade.

O convívio com a vanguarda não o afastou da cultura popular. "Nos anos 50, pintava ao som de Ângela Maria e Cauby Peixoto." Na década de 60, frequentou o morro da Mangueira e virou passista da escola de samba, num tempo em que a classe média preferia aplaudir da arquibancada a sambar na avenida. Nos anos 70, morando em Nova York, apelou a um biscate no tráfico de drogas e se deu mal. Inadimplente junto à máfia, recebeu ultimato: "Ou paga a dívida ou é um homem morto." Os irmãos César e Cláudio o socorreram com US$ 300 por mês. Nessa altura, havia abolido a separação entre obra e casa. Costurou ninhos de fios de plástico luminosos que embrulhavam os visitantes no apartamento. De volta ao Rio, em 1978, recolhia pedaços de asfalto na rua para construir "jardins de escombros" no banheiro.

Agonia A pressão alta era mal de família e, sabendo disso, ele se limitou a sucos e soda limonada no final dos anos 70. A 14 de março de 1980, sofreu um derrame cerebral. Sozinho no apartamento, imobilizado e sem voz, mas lúcido, ouvia a campainha tocar e via os amigos passarem bilhetinhos embaixo da porta. A agonia durou quatro dias, até uma amiga pedir licença ao vizinho e entrar pela janela. Morreu a 22 de março. "Ser eleito pelos leitores de ISTOÉ um dos artistas do século indica que, afinal, o público o compreendeu", diz Luciano Figueiredo, ex-coordenador da Fundação Hélio Oiticica.

VOCÊ SABIA? Bólides eram caixas de madeira, plástico ou vidro. Dedicou uma delas a Cara de Cavalo, assaltante morto pela polícia - dentro havia fotos do amigo caído numa poça de sangue. "O crime é a busca desesperada da felicidade autêntica, em contraposição aos falsos valores sociais", escreveu.

OBRA DE ARTE:
· Núcleos (a partir de 1960)*
· Penetráveis (a partir de 1960)
· Bólides (a partir de 1963)
· Parangolés (a partir de 1964)
· Ninhos (a partir de 1970)
(*) Todas as obras estão em poder da Fundação Hélio Oiticica - RJ


terra.com.br/istoe
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Nascido e falecido no Rio de Janeiro. Estudou com Ivan Serpa após 1954, e entre esse ano e 1956 integrou o Grupo Frente, aderindo posteriormente ao Movimento Neoconcreto e tomando parte nas mostras realizadas entre 1959 e 1961 no Rio de Janeiro, Salvador e São Paulo.

Integrou também a representação do Brasil na exposição internacional de arte concreta realizada em 1960 em Zurique, na Suíça, e esteve presente nas coletivas de vanguarda Opinião 65 e Opinião 66, Nova Objetividade Brasileira e Vanguarda Brasileira, realizadas entre 1965 e 1967 no Rio de Janeiro e em Belo Horizonte, expondo ainda na Bienal de São Paulo (1957, 1959 e 1965) e na da Bahia (1966).

Até 1959 Oiticica ainda se conservou fiel aos veículos e suportes tradicionais da pintura. Reduziam-se seus quadros de então a efeitos cromáticos e de textura obtidos unicamente com a aplicação de branco, e revelavam um ascetismo que o desenvolvimento posterior de seu trabalho iria desmistificar. Nesses primeiros quadros via-se já muito nítida a tendência do artista a superar o plano bidimensional, pela utilização da cor com evidentes intenções espaciais.

Abandonando o quadro e adotado o relevo, bem cedo incursionaria Hélio por novos domínios, criando seus núcleos e penetráveis, para chegar em seguida à arte ambiental, em que melhor daria vazas a seu temperamento lúdico e hedonista.

Surgem assim, de 1965 em diante, suas manifestações ambientais, com capas, estandartes, tendas (parangolés), uma sala de sinuca (1966), Tropicália (1967, um jardim com pássaros vivos entre plantas, lado a lado com poemas-objetos), Apocalipopótese (1968, reunindo várias manifestações de outros artistas, no Aterro do Flamengo, Rio de Janeiro), etc.

Todas essas experiências serão objeto de importante exposição efetuada em 1969 na Whitechapel Gallery, de Londres - no seu dizer, "uma experiência ambiental (sensorial) limite".

Em setembro de 1971, de Nova York onde se fixara, o próprio Hélio Oiticica, em texto difundido na imprensa carioca, assim se expressava:

«Se há gente interessada em minha obra anterior, melhor, mas não vou expô-la ou ficar repetindo ad infinitum as mesmas coisas; não estou aqui para fazer retrospectivas, como um artista acabado; estou no início de algo maior; quem não entender que se dane; procurem-se informar melhor e respeitar idéias e trabalho feito.»

Hélio Oiticica, que em 1970 tomou parte em Nova Iorque na mostra Information, organizada pelo MOMA, recebendo nesse mesmo ano bolsa de estudo da Fundação Guggenheim, viveu nos Estados Unidos até 1978, quando regressou ao Brasil e de novo se fixou no Rio de Janeiro, iniciando então a última fase de sua breve carreira.

Em 1981, um ano apenas após sua morte, seus irmãos Cesar e Cláudio criaram o Projeto Hélio Oiticica, destinado a preservar material e conceitualmente a obra do artista de quem a Galeria São Paulo, em 1986, levou a cabo importante exposição intitulada O q faço é Música, cujo título retoma um texto de sua autoria:

«Descobri que o que faço é MÚSICA e que MÚSICA não é "uma das artes" mas a síntese da conseqüência da descoberta do corpo.»

Nos últimos anos, em nível inclusive internacional, a importância de Hélio Oiticica como artista seminal dos novos desdobramentos da arte ocidental de fins do século e do milênio tem sido posta em destaque através de exposições itinerantes realizadas entre 1992 e 1994 em Paris, Roterdã, Barcelona, Lisboa e Mineápolis, sala especial na Bienal de São Paulo em 1994 e participação nas Bienais de 1996 e 1998 etc.

Por fim, ressalte-se a criação no Rio de Janeiro, em 1996, do Centro de Artes Hélio Oiticica.

pitoresco.com.br