A “Documenta 12” abriu as portas ao público no inicio do mês. na cidade alemã de Kassel (encerra a 23 de Setembro) assumindo-se como uma celebração artística mas também de cidadania, reconhecida pelo seu cunho inovador e vanguardista. Contando com a participação de 113 artistas e mais de 500 obras, seleccionadas pelo director Roger M. Buergel em parceria com Ruth Noack, o grande objectivo desta edição é atrair nos próximos dias cerca de 650.000 visitantes, estabelecendo um novo recorde. O grande carrosel de Andreas Siekmann, uma metáfora sobre política, globalização, repressão policial e refugiados, destaca-se na praça em frente ao Museu Fridericianum, de cujas janelas escapam bonitas ondas de aço e placas traslúcidas da brasileira Iole de Freitas. Na planta de baixo da instituição uma dezena de monitores transmitem ininterruptamente a final Itália-França do Mundial 2006, a partir de distintas perspectivas e técnicas. A instalação do checo Harun Farocki, é apontada como uma das que reunirá mais visitantes, assim como a proposta do chinês Ai Wei Wei que anunciou a presença em Kassel de 1.001 compatriotas, convertidos em “experiência artística” real e palpável - seleccionados via casting, por internet, entre milhares de candidatos. Os primeros 200 estão instalados, em jeito de alojamento de campanha, numa velha fábrica da cidade e os restantes chegarão nas próximas semanas. Paralelamente, dentro de outro pavilhão estão instaladas 1.001 cadeiras de madeira da dinastia Qing, restauradas, uma para cada um dos convidados. Enquanto os compatriotas de Ai Wei Wei se integram na paisagem urbana, aquele que se anunciava como a principal estrela do evento, o cozinheiro espanhol Ferran Adrià, será uma presença distante. O seu projecto consistiu em converter o restaurante de que é proprietário, “El Bulli”, no Pavilhão G da Documenta, a 1.500 kilómetros de distância, na localidade de Rosas (em Gerona, Espanha). Em Kassel, o único vestígio da sua participação é o nome incluído no catálogo, assim como no guia de mão, em que consta a existência de um “Pavilhão G” sediado em “Spanien”. A opção de Adrià contrasta con o intuito de Buergel de fazer da Documenta um convite à participação do grande público. A cozinha de Adrià só é praticável no “El Bulli”, pelo que se optou, em consequência a esta excepção à norma da Documenta, por concentrar em Kassel a arte mais inovadora. Desde 1955 que Kassel se converteu, em cada quatro anos, na sua primeira época, e agora em cada cinco, no centro da vanguarda artística. O primero director da mostra, Arnold Bode, elegeu esta cidade, que foi literalmente varrida (até 90% das suas casas) pelos bombardeamentos da II Guerra Mundial, e converteu-a, na época, no cenário ideal para a reabilitação de vanguarda que os nazis catalogaram de arte degenerada. Buergel quis que o evento estabelecesse um diálogo entre o moderno e o antigo. Para alguns críticos presentes em Kassel, o conjunto tem um certo ar de anos 70 ou de “dejà vu”. A saturação de mostras de arte contemporânea no Verão europeu deste ano - Kassel, Art Basel, a Bienal de Veneza e a mostra de esculturas de Münster - contribui para transmitir essa sensação, assim como a ideia de que, nesta edição, não estão presentes grandes nomes da cena artística internacional. Buergel propôs-se compensar este défice teórico com o seu conceito de passeio planetário para a arte mais inovadora e concedeu parte do protagonismo à América Latina, África e Ásia. Cada visitante terá, deste modo, a opção de descobrir por si mesmo o que essas latitudes, relativamente distantes dos grandes circuitos, têm para oferecer, afirmou.
Brasil na mostra
A brasileira Iole de Freitas está entre os artistas selecionados. Nascida em Belo Horizonte e radicada no Rio de Janeiro, ela é um dos principais nomes da arte contemporânea nacional.
Seus trabalhos se apropriam de técnicas da fotografia, do cinema, da escultura e da gravura. Atualmente, ela experimenta materiais como os tubos de metal e as placas de policarbonato.
Cerca de 8 mil metros quadrados de exposição estão distribuídos nos três locais tradicionais da mostra, mas também pela primeira vez no palácio classicista de Wilhelmshoehe e seu parque, onde um artista tailandês plantou um arrozal.
A Documenta, cuja primeira edição remonta a 1955, se celebra a cada cinco anos. Em sua décima segunda edição, o orçamento chega a 19 milhões de euros, a metade dos quais serão destinados à cidade, ao estado regional de Hesse e ao estado federal alemão.
O restante será obtido com a venda de ingressos (18 euros ou US$ 24,3 por dia de visita) e com patrocinadores. Espera-se a vinda de 650 mil visitantes.
Uma obra exposta ao ar livre e batizada de “Template”, do chinês Ai Weiwei, desmoronou após uma tempestade anteontem.
A instalação, situada sobre o jardim diante de um dos pavilhões da mostra, uma torre de 12 metros, já foi reconstruída, mas acabou se tornando umas as mais populares da exposição, graças ao acidente.
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